N?o sou fruto dos meus pais, mas da alma que sou que, em um dado momento, os escolheu.
- Antes, meu amiguinho, precisamos saber...
Mulo observou Ariel. Vendo dentro de seus olhos sentiu-se bem. N?o que confiasse menos em Lázarus, mas havia algo diferente em Ariel, como se uma deusa estivesse posta ali dentro, apenas esperando ser chamada para cuidar dele.
- Por favor – decidiu-se, olhando diretamente para Lázarus.
Lázarus suspirou fundo. Olhou para Ariel, que o encorajou com um belo sorriso, apesar de notar que seu cora??o estava apertado.
Lázarus inspirou profundamente e se fixou nos olhos turquesas do dahrar. A dor o atingiu quando a for?a de um dem?nio se aferrou nele. A escurid?o avan?ou com for?a, como se estivesse apenas esperando que a porta fosse aberta.
Deixou que as sombras avan?assem mais, ignorando toda a tristeza e dor que isso lhe fazia. Ent?o, com extrema suavidade para n?o colocar o dem?nio fora de seu alcance, abriu as asas e colheu a escurid?o, trazendo-a para junto de si. Quando estavam assim e a escurid?o crescia desenfreada, apenas trouxe a luz do seu cora??o. Achou que haveria uma luta terrível ali, mas ent?o a viu no meio daquelas sombras, tranquilizando-as, cuidando do dahrar, e soube que estava tudo bem. Tomado de respeito se retirou, um sorriso gentil no rosto.
Ao focar novamente os olhos em Mulo, viu o quanto ele relaxava, ao dar com seu sorriso iluminado.
- Ent?o – perguntou Valentina, tentando n?o se mostrar apressada em saber.
- Ele está bem. Esse menino é da luz, e n?o ficará demente – sorriu Lázarus. – Tem um dem?nio aí dentro, é certo, mas a luz é bem maior. Sua m?e, meu amigo, era uma vigilante, e ela nunca o abandonou. Ela deixou algo para trás, uma vontade e um amor que n?o se apagará nunca. Você é o fruto de um grande e improvável amor – declarou.
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- Meus pais. Amor... – gemeu o dahrar.
Com um movimento gentil se separou de Valentina, e entrou alguns metros na floresta.
Os três se entreolharam.
Lázarus viu a luz do dahrar se tornar pensativa e gentil enquanto se afundava nas sombras frescas da floresta. Suspirou satisfeito, dando o tempo de que o dahrar tanto necessitava.
Curioso sondou a dimens?o mais próxima, e viu que ali tudo também estava tranquilo em torno daquele lugar.
Relaxou e ficou aguardando.
N?o o encararam quando ele voltou, mas viram que ele estava bem mais leve. Ainda naquele estado de leveza se sentou, voltando os olhos para o anjo.
- Como ela morreu? Você viu?
- Isso n?o foi importante, ela colocou ênfase nisso quando se mostrou para mim. O importante sempre foi você – revelou. – Além disso, anjos também n?o morrem, Mulo. Tudo apenas se renova.
- é, n?o sei como, mas eu sei, eu sabia da escurid?o. Sabem, desde crian?a eu trago um medo terrível, que me atormenta demais. Um dia, eu era muito pequeno, eu vi essas sombras dentro de mim, e tive muito medo.
- Ainda teme as trevas, meu querido? – perguntou Ariel, a voz suave e carinhosa.
- Sim... N?o gosto da escurid?o, n?o quero a escurid?o – gemeu, se apertando um pouco mais em Valentina.
- Ah, Mulo, o medo é da escurid?o, a ela refor?ando. N?o a tema, apenas a acolha e a transforme.
- Transformar em que? – perguntou, os olhos esperan?osos postos em Lázarus.
- Na for?a que é... A escurid?o n?o é a ausência de luz, mas é uma luz extremamente pálida. Reacenda-a...
- E como fa?o isso?
- Só tem um jeito... é com o cora??o, Mulo.
- é assim que tenta controlar o guerreiro enfezado que eu vi?
Lázarus fechou brevemente os olhos, sondando sua alma. Sentiu os dedos de Ariel se apertando com suavidade em seu bra?o, como viu a cabe?a de Valentina se dobrar sobre os ombros de Mulo, enquanto os olhos dela o olhavam com um carinho imenso demais.
Seu cora??o se encheu, como só poucas vezes assim se enchera.
- Como a família é importante – sussurrou para si, acariciando um silêncio de paz que se insinuou poderoso.
> é, é assim mesmo que tento todos os meus dias, porque o guerreiro que sou é a escurid?o que trago dentro de mim. Ent?o, meu amigo, faremos isso juntos...