Jasmim estava inflando as bochechas com um claro olhar de reprova??o. Em suas m?os, um celular estava estendido em frente ao rosto de Ana. Um grotesco vídeo passava na tela, com uma pequena mulher batendo impiedosamente em um homem caído. Seu sorriso reluzindo em meio aos respingos de sangue era uma prova de seu prazer com o ato de brutalidade que cometia.
— Posso ter exagerado um pouco — um sorriso de desculpas surgiu no rosto de Ana.
— Exagerado um pouco? Estou surpresa que n?o acabou atrás das grades!
— N?o é pra tanto… mas talvez tenha me deixado levar — apesar do que dizia, n?o p?de negar para si mesma que o fato de um vídeo seu estar circulando a deixava incomodada. Era difícil se lembrar que a internet existia quando passava o dia todo vendo machados e escudos sendo vendidos pelas ruas.
— Você tem sorte por n?o ter ido para o público geral, mas ouvi que alguns ca?adores problemáticos ficaram interessados. Tem muita gente doida por aí, chamar aten??o só vai te tornar um alvo.
Vendo Ana dar de ombros, um longo suspiro escapou dos lábios de Jasmim. Ela cansou de tentar colocar moral na cabe?a da irm?, o sorriso descontraído da garota a estava deixando cada vez mais irritada.
— Enfim, hoje alguns amigos v?o vir aqui para comemorar, eu ia te chamar, mas… com esse vídeo, n?o acho que seja ideal você aparecer por enquanto — com olhos culpados, Jasmim prosseguiu — Me desculpe…
— N?o se preocupe — disse Ana rindo, feliz por n?o ter que socializar — Mas comemorar? O que de bom rolou?
A jovem ca?adora estufou o peito ao ouvir a pergunta de Ana. Um sorriso orgulhoso surgiu e suas m?os se moveram para seus quadris, como se já estivesse preparada para a pergunta.
— Olhe isso! — disse Jasmim, levantando um crachá como se fosse um troféu. Além das informa??es básicas da garota, uma grande letra “E” estava estampada no documento
“Cada vez mais entendo o que Madame queria dizer… Imagino que os cart?es de ca?adores de rank A pare?am ainda mais uma CNH”, pensou ela, vendo sua irm? exibir o papel sem gra?a e comparando-o com seu próprio emblema de rainha.
— Você se tornou uma ca?adora rank E? Isso é incrível! Quando aconteceu?
— Foi na minha última miss?o, eu estava simplesmente ca?ando alguns lobos, ent?o do nada… BOOM! Meu corpo come?ou a tremer e senti que a mana come?ou a passar pelo meu corpo bem mais rápido.
— Parabéns, Jasmim.
— Obrigado, Ana — disse a ca?adora, com um sorriso que se espalhava cada vez mais em seu rosto.
— Hmpf, ent?o é você de novo? — a testa franzida de Maria deixava clara sua irrita??o — Como tem coragem de aparecer na minha frente? Sabe quantas horas esperei para te parabenizar depois da luta?
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— N?o tinha como eu saber disso. De qualquer forma… — Ana puxou uma moeda de ouro de seu bolso. Os olhos de Maria brilharam.
— é claro que n?o tinha como você saber disso, querida cliente. Como posso te ajudar hoje?
A mudan?a brusca de atitude de Maria fez Ana sorrir. Ela tirou uma pequena lista da mochila e jogou-a para a jovem vendedora.
— Parece que você realmente se interessa pelo assunto — disse a garota, abaixando-se perto dos caixotes da parte de trás da sua barraca enquanto lia cada nome da lista.
Enquanto esperava a busca dos livros, Ana reparou na cidade ao seu redor. modernidade se mesclava cada vez mais com o mundo medieval de Aurórea, dando ao mundo um ar de conto de fadas.
“Eu me pergunto se minha rotina antiga seria t?o cansativa se eu tivesse um mundo t?o belo para apreciar”, pensou Ana, se dando conta que realmente apreciava a mudan?a pós apocalipse.
— Infelizmente n?o terei os livros de engenharia mágica avan?ados, mas todo o resto está em algum lugar por aqui. — disse Maria, voltando dos caixotes com uma pequena pilha de 6 livros. Todos faziam parte de uma rápida pesquisa feita por Ana no dia anterior, aparentemente os melhores da área atualmente, mas isso ela decidiria por si mesma.
— Já está bom, mas por esse valor espero que você separe-os para mim quando encontrar. Virei buscar futuramente.
— Combinado!
— Além disso, você vende conhecimento, certo? Estou disposta a manter um pagamento de uma moeda de ouro por mês para um relatório de tecnologias emergentes, assim como qualquer assunto relevante. Sei que a comunica??o com as demais cidades n?o está das melhores, mas quero saber qualquer novidade na mescla da ciência com a magia.
“Como ela ficou t?o rica?”, pensou Maria. Uma vida de luxo passou pela sua mente. Uma moeda de ouro era algo inimaginável para civis, principalmente em uma profiss?o difícil de vendedora. Claro, ocasionalmente ela conseguia informa??es privilegiadas e ganhava um bom lucro, mas as vezes que ganhou tal quantia podiam ser contadas em uma única m?o.
— Você ainda está aí? — questionou Ana, tirando Maria de seus devaneios.
— Pode contar comigo!
— ótimo, obrigado pela prestatividade. Tenho só um último assunto… preciso de algumas armas modificadas. S?o para estudo, ent?o qualquer coisa serve. Sabe com quem devo falar?
— Apenas me passe o endere?o da entrega, eu me encarrego de conseguir para você — respondeu Maria, após ponderar um pouco sobre o assunto. — Claro, você se encarrega dos custos finais das armas…
Ana concordou com um aceno, deixando sua casa como local de entrega. Armas de fogo n?o eram ilegais na nova sociedade, mas n?o eram vendidas em lojas normais. Os projéteis n?o eram t?o úteis contra os monstros quando perdiam o contato com a mana do usuário, logo continuavam mal vistas pela sociedade, sendo mais utilizadas para intimida??o entre as próprias pessoas do que em ca?adas reais.
Se despedindo de Maria, Ana caminhou ao redor do centro da cidade. Era a primeira vez que estava saindo a passeio, ent?o havia muito o que ver. Era o meio da tarde, ent?o as ruas estavam quase vazias, mas clientes esporádicos podiam ser vistos entrando e saindo das lojas.
Ana caminhou pelas ruas cobertas de pedra, onde o ar fresco carregava o aroma misto de especiarias exóticas e metal forjado. O som metálico dos ferreiros trabalhando se misturava com as melodias distantes dos artistas de rua e gritos de curandeiros vendendo suas ervas, criando uma sinfonia de vida e trabalho. Ela até mesmo se permitiu comer uma iguaria local, o toque da seiva de árvore em seus lábios era doce, com um leve amargor que se espalhava pela língua, uma lembran?a da natureza imponente que cercava a cidade.
Ao passar em frente a uma imobiliária, olhou de relance alguns anúncios, puramente por curiosidade, mas um deles chamou sua aten??o: um pequeno galp?o desgastado estava disponível para aluguel. Sua aparência n?o chamava muita aten??o, estava com algumas janelas quebradas e coberto de grafites, mas havia um bom espa?o de quintal e seu custo eram apenas duas moedas de ouro.
“Pelas fotos, parece perfeito para minha forja.”
Sua renda passiva como fundadora de bronze eram dez moedas de ouro, uma quantia significativa para alguém que mal sabia sobre o sistema monetário atual. Ana, decidiu pagar uma moeda para cada membro de sua nova equipe, e acabou de fazer um acordo com Maria de mais uma moeda de ouro por informa??es privilegiadas, sobrando cinco para seu uso.
“Se eu apertar um pouco e usar bem o espa?o externo, podemos criar um centro de treinamento além da minha forja.”, ela refletiu por um momento se deveria adicionar as duas novas moedas aos gastos mensais, mas por fim decidiu alugar o local.
“Só espero que dê tempo.”, os últimos seis dias foram usados exclusivamente para as batalhas simuladas, corrigindo os erros dos novos integrantes e entendendo melhor suas características. Ana optou por n?o pegar trabalhos isolados nos primeiros dias, seguindo um conselho de Madame, ela decidiu se preparar para a primeira miss?o especial o máximo possível.
Ainda haviam muitos preparativos para serem finalizados, mas nos nove dias restantes ela estava pronta para mergulhar em suas pesquisas e experimentos sobre uma das poucas formas que conhecia para se fortalecer. Ciência!
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