— N?o há o que fazer — disse Ana, sua voz firme, mas sem hostilidade. Ela estendeu a m?o para Niala, analisando cada nuance de sua express?o. — Você foi um dos principais fatores para estarmos vivos, rainha inseto. Ent?o pare de se culpar.
A mulher hesitou. Suas pernas longas e elegantes pareciam menos estáveis agora, como se ela carregasse um peso que seu corpo resistente n?o podia suportar.
— Mas…
— N?o tem ‘mas’. N?o foi tarde demais — Ana interrompeu, seu tom n?o deixando espa?o para discuss?o. — Fim de papo.
Antes que a outra rainha pudesse retrucar, Ana puxou sua m?o para um aperto firme, selando a conversa com sua decis?o.
A rainha-inseto apenas suspirou, aceitando o gesto.
Ela e seu pequeno batalh?o haviam chegado na taverna algumas horas depois de Ana, acompanhados por Luiz.
A tens?o na chegada foi imediata.
Os cinco guerreiros de Niala pareciam t?o fortes quanto os que Ana havia enfrentado em sua invas?o à col?nia, mas estavam em um estado muito melhor do que aqueles.
Por um instante, houve medo.
A guerra ainda queimava na pele de cada sobrevivente. N?o havia confian?a. N?o havia certezas. Todos se enrijeceram ao vê-los, já com espadas em punhos.
Mas ent?o, o mentalista surgiu correndo na frente, acenando desesperadamente.
— Baixem as armas!
Felizmente, foi o suficiente para evitar um derramamento de sangue desnecessário.
"Um massacre. Mas um massacre bom."
Essa foi a explica??o que deram a Ana durante a longa conversa que se seguiu.
Isso a fez rir.
N?o havia estratégia que pudesse se opor a um exército que pensa como um único ser.
A mente coletiva dos corrompidos de Myrmeceum permitiu que eles atuassem de maneira perfeita e sincronizada.
N?o havia hesita??o.
N?o havia falha de comunica??o.
E quando se está em maior número, qualquer resistência torna-se irrelevante.
Claro, os insetos n?o eram um povo bélico.
Eram expansionistas.
Sobreviventes, sim, mas n?o guerreiros.
Assim, n?o tinham o mesmo treinamento, a mesma brutalidade ou resistência dos ca?adores de Barueri, que viviam em batalhas constantes contra monstros.
Mas ainda assim, a vitória foi esmagadora.
No entanto, o pre?o n?o foi barato.
— Muitos morreram… — comentou Luiz, fechando os olhos. Sua voz era baixa, quase um sussurro.
Ana n?o respondeu imediatamente, e ele respirou fundo antes de continuar.
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— Gabriel também estava na defesa das muralhas.
Hesitante, Luiz retirou algo de dentro de sua vestimenta.
A máscara branca do anjo de pedra.
Ana a pegou com calma, observando-a sob a luz fraca que restava na taverna.
A pedra estava trincada, marcada por rachaduras, suja de sangue e poeira.
“Dois Gabriel 's morreram no mesmo dia... “
Ana soltou um riso baixo, acariciando sua superfície áspera com os dedos.
Suave, mas estranho.
— N?o se preocupem tanto. Tenho certeza de que ele se sentiu satisfeito antes do fim.
Niala franziu o cenho.
— Satisfeito? — perguntou ela, sua voz carregada de incredulidade. Ao mesmo tempo, vasculhou o ambiente com o olhar, como se procurasse mais bebida para ocupar sua mente.
— Sim, sim.
Niala e Luiz se entreolharam, confusos pela falta de explica??o.
Ana riu ainda mais ao ver a rea??o deles.
Eles n?o entendiam.
Mas ela também n?o sabia se queria explicar.
Girou a máscara entre os dedos uma última vez e suspirou exausta, jogando-a sobre o balc?o.
— Enfim, a guerra acabou.
A simples frase carregava um peso monstruoso, e enquanto todos se perdiam em suas próprias reflex?es, Ana distraiu-se, brincando com o pingente que havia pego da Colecionadora.
O virou entre os dedos, seu polegar passou pelas pequenas inscri??es rúnicas no metal.
N?o tinha qualquer pretens?o, só n?o queria mais conversar. Mas ent?o, no meio de seu devaneio, um som a fez parar.
Um pequeno ruído.
O rosto de Ana travou.
Seu corpo ficou rígido, e seus olhos se fixaram no pequeno pingente vibrando em suas m?os.
“Se isso explodir, vou insistir que foi um acidente!”
Sentiu um frio percorrer sua espinha, mas n?o demonstrou nada.
Madame, percebendo sua postura estranha, tomou a palavra.
— Somos poucos, mas as pessoas aqui estariam mais do que dispostas a recome?ar, Ana.
— Sim! Já fizemos isso uma vez, podemos fazer de novo! — Luiz se inclinou levemente para frente, sua voz carregada de convic??o.— Vamos erguer a Insídia 2.0!
Ana arqueou uma sobrancelha, olhando de um para o outro.
— Vocês est?o realmente animados...
Respondeu a rainha, enquanto o desconforto crescia cada vez mais dentro dela.
Precisava sair dali.
Agora.
Ent?o, come?ou a recuar.
Suas m?os estavam escondidas atrás das costas, apertando o pingente com mais for?a, o qual vibrava cada vez mais intensamente.
O ruído abafado do objeto crescia, quase escapando entre suas palmas.
N?o sabia o que estava segurando.
Mas n?o queria descobrir ali, cercada de gente.
— Tá fazendo o quê? — perguntou Luiz, sem entender.
— Nada, ué — respondeu Ana, de forma casual, sem diminuir o passo em marcha ré.
Já estava quase na porta.
O pingente estava quente, queimando levemente sua palma, como se quisesse se fundir à sua pele.
Mordeu o lábio, mantendo a express?o neutra.
— Bom, é isso que faremos, reerguermos o reino! A queda traz for?a! — murmurou com um falso sorriso.
Sem esperar mais respostas, virou-se e correu.
Estava prestes a lan?ar o objeto o mais longe possível… Quando o viu.
Um som profundo cortou o ar, como a trombeta de um rei anunciando sua chegada.
Ana parou abruptamente, o cora??o disparando involuntariamente.
Vindo de cima das nuvens, um grande navio descia imponentemente.
Sua estrutura era afiada, elegante, sem as imperfei??es de uma embarca??o tradicional.
As bordas eram lisas, com um brilho metálico, como se a madeira tivesse sido temperada com infinitas tiras de metal.
As velas eram negras, mas n?o eram simples tecidos — pareciam feitas de um estranho couro escamoso, um manto de besta morta que agora deslizava no vento.
Aquilo era como um monstro voador, deslizando pelo céu com a gra?a de um predador.
Foi ent?o que, com olhos cheios de admira??o, viu o pequeno detalhe final.
No casco, bem ao lado de uma runa idêntica à vista no pingente, em letras de um intenso dourado, um nome se destacava contra a madeira escura.
Collectio.
Mesmo de longe, as palavras brilhavam como uma senten?a.
— ‘Cole??o’... Ent?o é assim que aquela desgra?ada sempre estava em todo lugar…
O quebra-cabe?a finalmente fazia sentido.
Seus dedos se fecharam ao redor do pingente.
O metal latejava contra sua pele.
Ana entendeu, e ent?o, ela riu.
Primeiro, um sopro de ar pelo nariz. Depois, um riso contido, quase trêmulo.
Mas ent?o, foi impossível segurar.
Jogou a cabe?a para trás e riu com vontade.
Até que sua risada preencheu o silêncio da destrui??o ao redor.
Seus olhos brilharam de pura insanidade.
Seu cora??o disparava.
Seus pés se moveram por conta própria, dando um passo à frente.
Depois, outro.
Depois, outro.
"Esse mundo é meu."
"Minha terra."
Outro passo.
"Meu ar."
Mais um.
"Meus mares."
Seu peito subia e descia com intensidade.
Os outros, perplexos pela mulher que saíra correndo no meio da conversa, finalmente saíram da taverna.
No entanto, imediatamente após sair, Luiz deu um passo para trás.
“O que diabos é esse olhar?”
A rainha parecia maior. N?o fisicamente, mas… de alguma forma.
A maneira como se movia, a forma como seus olhos brilhavam.
Simplesmente n?o sabia explicar.
Niala tentou falar, mas sua boca ficou seca. Ela sentiu medo.
Nem mesmo conseguiram reagir ao enorme navio que flutuava logo ao lado da rainha.
Ana dominava aquele ambiente com sua presen?a, era como se só ela existisse.
Notando-os ali, a rainha de Insídia se virou.
Seus bra?os se abriram.
Como se estivesse abra?ando o próprio universo que a cercava.
Seu sorriso era feroz.
Seus olhos relampejavam com algo que ninguém ali poderia compreender.
Seu corpo tremia.
Mas n?o de medo.
De excita??o.
De posse.
Olhou uma última vez para os escombros de Insídia.
O sangue.
As ruínas.
Os mortos.
“Um reino n?o basta.”
Respirou fundo.
Sob cada vez mais olhares, sua voz explodiu como um canto de guerra.
— Tudo está ao nosso alcance!
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