Acontecem certas coisas na vida que parecem ter o poder de renovar a alma. Tenho que estar atento.
Avenon mal podia acreditar. Novamente um caído descia à sua frente, fechando a trilha. Grunhiu baixinho, contrafeito. Apesar daquele parecer ser um pouco diferente do anterior, apesar daquele estar com um animo diferente, e apesar daquele estar na companhia de um simpático e belo drag?o que nunca vira antes por aquelas terras, se imaginou tendo a mesma conversa idiota de algum tempo atrás.
Por isso n?o diminuiu o passo, o rosto meio abaixado, os olhos mantendo os vultos dos outros sob seus olhos, notando que o vigilante parecia confuso, como se cheirasse o ar, tentando se decidir sobre algo.
Olhou para o drag?o, para conferir o animo dele, e viu que ele se esticara e deitara ao lado da trilha, satisfeito, pouca importancia dando à sua presen?a.
Assim que se aproximou o suficiente levantou de súbito a lan?a, que mirou no cora??o do caído.
Conferiu que o drag?o ainda o ignorava. Já se batera com alguns drag?es meio ranzinzas, mas esse parecia diferente, e n?o queria se indispor com ele.
- Ei, calma aí – ouviu a reclama??o surpresa do caído, que antes que tocasse o ch?o se impulsionara novamente para o alto.
- Isso foi só um aviso. Estou cansado das manias idiotas de vocês. Saia do meu caminho – falou empurrando seus pés que estavam na altura dos seus olhos e ultrapassando-o, continuando a trilha que passava ao lado do drag?o, sem nem ao menos se virar para ver a rea??o do caído.
Nem bem dera vinte passos quando o caído passou acima dele e se postou novamente acima da trilha à sua frente.
Suspirou, vendo pelo canto dos olhos que estava bem ao lado da magnífica criatura, que ainda pouca importancia lhe dava.
Irritado pela presen?a do caído girou algumas vezes a lan?a nas m?os, todos os seus sentidos em alerta.
De súbito Avenon levantou os olhos e atirou a lan?a com muita potência, na dire??o do caído.
O anjo girou o tronco, tirando seu corpo do caminho da arma. Quando ela ia passando a segurou.
Com simplicidade a girou e atirou verticalmente para baixo, fazendo-a se enterrar no solo.
- N?o sou seu inimigo, me desculpe ter entrado assim no seu caminho.
Avenon, que já se preparava para sacar as espadas, as deixou deslizar novamente nas bainhas das costas, os olhos fixos nos do anjo.
Amainou o rosto.
- Sou eu que devo pedir desculpas – falou por fim, ainda n?o totalmente convencido se aquele ser seria realmente alguém que o procurava em paz ou se era apenas uma artimanha para o apanhar com mais facilidade. – Tive um encontro ruim, logo atrás.
- Ah, sei, o caído lá atrás. Eu o vi – falou sem demonstrar qualquer emo??o.
This story originates from a different website. Ensure the author gets the support they deserve by reading it there.
- E o que procura, para vir até mim?
- Estou confuso. Eu senti seu pulso há alguns dias, e ele me lembrou alguém. Alguém bom – juntou depressa deixando seu peso tocar o solo, vendo que o nefelin amea?ara ficar tenso novamente.
- E quem seria? – quis saber, se aproximando de vez, sacando a lan?a do ch?o, a postura tranquila, ainda que vigilante.
- Um amigo que n?o encontro há muito tempo. Eu o via quase sempre mas, de um momento para outro, ele e muitos dos outros simplesmente desapareceram.
- Foram mortos? – estranhou.
- N?o, isso n?o! Eles, ao que parece, se esqueceram.
- Eles? – estranhou, agora se mostrando interessado.
- Família. éramos uma família, ou somos ainda. Eles desceram para essa terra para uma miss?o, e aqui se fizeram homens, nefelins e pessoas...
- E n?o dahrars? – sorriu o nefelin.
- Espero que n?o... Ent?o você já ouviu falar deles, desses dahrars?
- Todo mundo fala deles, de um jeito ou de outro.
- E o que acha? O que acha deles?
- Nunca encontrei algum. Mas, ou?o dizer que a maioria é muito ruim no cora??o. Tem alguns bons, mas a maioria, dizem, é bem ruim. Você acha que s?o t?o ruins assim?
O nefelin se virou, vendo descer ao lado do anjo, em total silêncio, uma belíssima vigilante de olhos negros como a noite. Por algum tempo ficou sem palavras e sem rea??o ante aquela mulher.
- Uauuu... Me desculpe, mo?a, mas... Você definitivamente causa impacto.
- N?o causa? – riu Lázarus, tomando na sua m?o a m?o que ela estendia.
Avenon sorriu compreendendo o significado do gesto. Já encontrara, mesmo que apenas uma vez, duas almas gêmeas. N?o se lembrava quando, mas tinha a nítida impress?o de que acabara de encontrar uma outra dupla.
- Entendi, legal – sorriu para os dois. – Mas, voltando aos dahrars, me diga, por que espera que algum de sua família n?o des?a como dahrar? S?o realmente t?o ruins? Vocês têm raiva deles?
- N?o confio neles. A maioria enlouquece cedo – confessou a vigilante, deixando a m?o de Lázarus.
– Espero que tenham escolhido um dos três que falei – Lázarus sorriu amigável, vendo que o nefelin se sentava no ch?o fofo da floresta.
- Você os perdeu?
- Eu os vigiava, mas... O véu desse mundo é muito pesado, exige demais – se justificou. – Um deslize e as coisas se desfazem e surgem como novas, desconhecidas, esquecidas, sem o pulso original.
- Entendo... E acha que eu sou um deles?
Lázarus ficou em silêncio por um momento, sondando o rapaz até a quarta dimens?o.
- Tudo leva a crer que sim. Meu nome é Lázarus, e sou um caído.
- Um da família? – assombrou-se Ariel, sem tirar os olhos do rapaz, um largo sorriso surgindo no rosto.
- Tudo leva a crer que sim...
- E eu sou...
- Ariel... – falou o nefelin, o rosto mais iluminado. E Lázarus... Por que você n?o falou seu nome logo no início, ao invés de aparecer daquele jeito que parecia querer confus?o? Tipo um anuncio, sabe? Ouvi estórias suas, quando ajudaram aquelas famílias. Foi muito legal da parte de vocês – elogiou, agora totalmente relaxado. – Se eu for da sua família, Lázarus, tenha certeza de que ficarei muito orgulhoso. E meu nome é Avenon.
- Ora, que bom, Avenon...
- E, vem cá, qual é a dele? – perguntou se referindo ao Shen, que continuava indiferente na beira do caminho, só que agora deitado de costas, olhando o céu enquanto seguia uma borboleta, parecendo feliz demais, como uma crian?a num parque.
- Ora, por que pergunta?
- E n?o deveria? Você vem na minha frente, me esquivo, atiro uma lan?a em você...
- Você atacou o Lázarus? – Ariel n?o aguentou a notícia e riu.
- é, eu n?o sabia que era ele.
- E ele também teve um encontro ruim com um vigilante lá atrás – Lázarus explicou. – Está mortinho, por lá...
- Entendi, entendi...
- Pois é... E ele n?o fez nada. Desde o come?o me ignorou completamente. Sou t?o assim... Quero dizer, n?o represento perigo nenhum?
- Magoado? – ouviu a pergunta no ar. – Se quiser posso te atacar ent?o...
- Ah, entendi. Pelo tom que usou, você n?o me leva a sério, é isso?
- De jeito algum... – falou o drag?o, agora sério, deitado de lado, os olhos presos nos de Avenon. – Sua alma é nobre...
- Ora, ... Essa é nova. Sinto-me honrado – admirou-se Avenon, sob o olhar sorridente dos vigilantes.
- Também senti que você tem a alma de luz. Posso? – pediu Lázarus se aproximando, mostrando sua inten??o de tocar entre as sobrancelhas do nefelin.
O nefelin olhou serio para seus olhos, avaliando com muito cuidado se deveria se deixar assim t?o exposto. Ent?o, resolveu se arriscar, aceitando o contato.
Quando Lázarus tocou em sua testa, o mundo pareceu explodir enquanto um nome era gritado por toda a tempestade: Castiel.