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SÊNIOR

  Sou velho, sou antigo, em tempos heroicos fui forjado.

  Alma temperada, um cora??o valente criado.

  Na espada afiada a história dirigi, e me perdi.

  Porém, nas flores dos campos azuis fui perdoado,

  e o meu destino eu, ent?o, finalmente, vi.

  - Algo está mudado nele, eu sinto – falou Ariel, os olhos fixos em Emanoel.

  - Teme que ele desperte como Sênior?

  - Ele vai sofrer muito, se voltar como o guerreiro duro que era.

  - Por que esse temor? – Emanoel perguntou curioso.

  - E n?o tenho eu raz?o em meu temor? - perguntou voltando os olhos pesados para um pano onde uma espada estava enrolada. – Antes dele tomar os dahrars e os levar embora ele deixou sua espada comigo, e eu a guardei. Assim que o deitei aqui em Par Adenai eu fui guardar a sua espada e... Mas, n?o era mais a espada azul de veios belos em tons mais escuros, pois até mesmo seu peso e o ar em volta dela estava diferente. A energia dela mudou. Vintana está aqui – falou, abrindo com os dedos as dobras dos panos e expondo a espada, que se mostrava toda cinza-chumbo oleosa com alguns veios brancos. Ariel gemeu baixinho, tentando controlar uma ponta de desespero.

  Emanoel mostrou os olhos preocupados, varrendo a espada de fora a fora. Devagar a tomou e observou sua lamina. No cinza da lamina podia ler, em branco iridescente que parecia pulsar suave e insinuante, o seu nome: “Aquela que termina”, de ambos os lados.

  - Sei que está preocupada, e isso também n?o me agrada – confessou, devolvendo a espada aos panos, que novamente embrulhou, vendo Ariel toma-la em modos pensativos e pesados e empurrá-la devagar para baixo do leito, – Mas, Ariel, Sênior sempre foi um guerreiro de muita honra e inteligência. é verdade que ele era extremamente violento no trato com a escurid?o, mas sempre, sempre foi honrado. Se ele voltar a ser Sênior, ent?o assim será por um contrato assinado com o UM. Além disso, se tal n?o for, será momentaneo, e logo ele voltará a ser Lázarus. Vamos dar tempo a ele. O que acha?

  - Por quê? Por que ele pode voltar a ser o Sênior? Em que momento essa possibilidade se abriu? Eu n?o entendo... – a dor transparecia poderosa, todo seu corpo revelando o que lhe ia na alma. – E se eu o perder? E se ele, Sênior, me colocar para longe dele?

  - Quanto a ele se afastar de você, Ariel, n?o posso dizer como vai ser. Sênior sempre foi solitário, só ele e sua família. N?o sei – confessou. – E, quanto ao porque isso aconteceu, deve ter sido pelo contato que teve com a escurid?o de Mulo e Avenon, isso é quase certo. Algo n?o resolvido deve ter se apresentado. No entanto, minha querida Ariel, há uma diferen?a.

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  - E qual seria essa diferen?a?

  - Ele n?o as atacou. Ele as consolou... – suspirou.

  - Mas...

  - A escurid?o que o tinha – falou, interrompendo os pensamentos da vigilante, - n?o havia sido resolvida na alma dele. Ele a entendeu superficialmente e a ocultou. Quando a escurid?o dele entrou em contato com a escurid?o dos dois, ela se reconheceu e despertou.

  - Ele era o mais forte deles? Era ele quem comandava a família?

  - N?o era ele “aquele que é ouvido” – falou.

  - Quem era “aquele que é ouvido”?

  - Esse foi um dos primeiros a deixar a família – revelou.

  - Quem era ele, Emanoel? Negrumo?

  - N?o, n?o era Negrumo também. Olhe, isso n?o é importante agora, e duvido que em algum momento o seja para esse aqui/agora – Emanoel falou, os olhos azuis presos com gentileza nos dela.

  - Ent?o, se ele n?o era o comandante, aquele que se ouvia, por que só ele permaneceu como anjo guerreiro, como AsaLonga?

  - Porque ele era o mais determinado deles...

  - Safiel me levou aos registros, e abriu vários para mim. Mas, há algo que n?o entendi, e sobre isso fico pensando desde ent?o. Em um determinado momento, logo após uma guerra muito violenta com os escuros em um sistema longe daqui, acho que em Lira, ele se tornou mais terrível, como se movido por algo mais sombrio. Foi lá que ele emergiu como um dos comandantes. O que aconteceu em Lira, Emanoel?

  Emanoel a observou, os olhos tranquilos. Ariel n?o perdeu tempo tentando ver através daqueles olhos. Conhecia o quanto os olhos dos anjos eram inescrutáveis.

  - Foi quase que logo no come?o, quando a escurid?o realmente come?ou a ser combatida. A guerra lá foi muito intensa, terrível, e muitos anjos sofreram de uma forma horrenda demais. O comandante e milhares da família foram presos e torturados. Lázarus e muitos outros conseguiram libertá-los, mas encontraram apenas alguns. Sênior nasceu ali, mas tudo realmente recrudesceu pouco depois, quando viram a tortura que as m?nadas passavam para serem usadas como alimentos para os dem?nios. Foi naquele momento que ele se tornou um anjo zangado.

  Ariel suspirou pesado, os olhos perdidos em vis?es que n?o desejava.

  - E os outros? – perguntou preocupada, por fim.

  - Eles tinham dúvidas demais. Eles n?o estavam muito fortes na luz...

  - Você quer dizer que...

  - Eles caíram demais na experiência, e até hoje n?o puderam ser resgatados...

  A vigilante ficou em silêncio, os olhos perdidos na espada, na luz que pulsava suave entre os panos numa paz enganadora.

  Ent?o deixou uma quietude crescer dentro de si, uma paz pensativa, que pulsava tranquila, quase no limite do adormecer.

  Emanoel ficou alerta, vendo o que estava acontecendo, e a decis?o que estava sendo tomada.

  > Minha querida amiga, a escolha dele n?o é e n?o deve ser a sua...

  - Pois a minha escolha é ir onde ele for, é ser o que ele se tornar. Se ele escolher ser Sênior, o terrível guerreiro, o anjo zangado, também serei, porque, como você mesmo disse, havia enorme honra nele. Essa é a minha escolha – declarou baixinho, os olhos pousando com intenso carinho no AsaCortada. – Mas, eu confio, Emanoel. Você mesmo disse: ele tocou a escurid?o, e cuidou dela...

  - E sabe por que, n?o sabe, Ariel?

  - Por que, Emanoel?

  - Porque ele, simplesmente, te ouviu. Foi em você que ele confiou para tomar a decis?o de ajudar os dois. Ele se lembrou do que você disse a ele, mesmo que o tenha dito em algum momento de raiva e desespero. Mas, ele te ouviu e confiou que teria for?as para isso. Sua voz, seu rosto, sua energia, foi nisso que ele firmou sua espada, sua raiva e sua vontade. Tenho certeza de que, apesar de Vintana ter voltado, esse n?o deverá ser mais o nome dela – falou, a voz gentil, enquanto a tomava num terno abra?o. - E, caso ainda seja Vintana, que diferen?a fará? Apenas será um nome, como AsaLonga, ou AsaCortada...

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