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Capítulo 21 - Batalha

  — Uau, ent?o esse é o Grand Canyon. O que acha, Gabriel?

  — Parece ridículo.

  — Em breve vai ficar mais interessante — disse a voz, soltando uma alta gargalhada.

  Nuvens se estendiam por todo o horizonte, dando a impress?o de estarem em uma grande cúpula fofa. Abaixo, milh?es de anos de história geológica do planeta Terra eram representados por chatas pedras vermelhas.

  Um anjo pairava no céu, suas roupas soltas balan?avam fortemente com o vento. Era uma cena engra?ada, pois apesar de ter asas, parecia apenas flutuar. Ao seu lado, uma garota caía lentamente. Um paraquedas militar desgastado estava firmemente preso às suas costas.

  Em um silêncio c?modo, os dois observavam o avi?o seguir em dire??o ao ch?o, esperando o resultado final como se fosse dar um novo significado a suas vidas. Este era um um dos últimos exemplares funcionando de um Antonov An-124 Ruslan, um dos monstros dos ares da época pré-apocalipse, e agora encontraria seu triste fim como entretenimento de uma garota entediada.

  — Ei, eu estou morta?

  — Eu n?o sei, sou só uma lembran?a mal feita.

  — Entendo…

  A grande massa de ferro se aproximava rapidamente do solo. Ana levantou o rosto para aproveitar um pouco dos fortes raios solares que batiam intensamente em uma altura t?o elevada.

  — Eu senti sua falta — disse ela, ainda com os olhos fechados.

  — Eu sei, mas n?o pense muito nisso, algum dia ainda nos reencontraremos. Sou o destino de todos de seu mundo. Ah, acho que já é a hora, olhe.

  Seguindo o dedo estendido do anjo, a garota viu o avi?o se chocar com as rochas de maneira seca, amassando-se sobre si mesmo. O tempo pareceu parar por um instante enquanto Ana e Gabriel se encararam, decepcionados. Felizmente, evitando a quebra ainda maior de suas expectativas, uma explos?o veio logo em seguida, englobando uma enorme área com uma grande nuvem de cogumelo.

  — Eu n?o me lembrava que essa explos?o havia sido t?o pequena. Devíamos ter colocado mais algumas bombas — murmurou Ana, torcendo o nariz.

  — Sim, devíamos ter feito isso.

  Apesar da cena pouco empolgante, a explos?o, que deveria ter parado após o clar?o inicial, voltou repentinamente a crescer. Parecia que logo os alcan?aria.

  — Sonhos s?o t?o bizarros… bem, isso é um até logo, Gabriel — com um aceno sutil e um radiante sorriso, ela soltou seu paraquedas, indo direto em dire??o a explos?o.

  — Até logo, minha amiga.

  Ana abriu lentamente os olhos, sentindo o peso da realidade pressionar contra suas pálpebras como o frio de uma lamina. à medida que sua vis?o se clareava, a forma imóvel de Marina tornava-se clara.

  Por um breve momento, Ana permitiu-se acreditar que ela estava apenas dormindo, tranquilamente escondida nos bra?os do sono. Mas a umidade que sentia em suas costas, a falta de calor das m?os que acariciavam seus cabelos e a total ausência de movimento vieram como um soco cheio de verdade, uma verdade que se imp?s com uma for?a brutal: Marina estava morta.

  “Eu te darei um enterro digno, Marina. Pe?o apenas que espere um pouco”, com o cora??o pesado, mas sem tempo para o luto, Ana se levantou.

  A frieza da morte parecia ter congelado o ar ao seu redor, mas ela n?o podia se permitir tremer. O rastro de sangue, marcando o caminho para a caverna, chamou sua aten??o. Com um suspiro que carregava o peso do mundo, ela seguiu as marcas, a determina??o queimando em cada passo.

  O som de vozes baixas e um riso macabro a receberam na entrada da caverna, o ar frio e úmido acariciando sua pele. O som distante de gotas de água ecoava pelas paredes irregulares, misturando-se ao zumbido baixo de uma brisa que carregava o odor metálico do sangue derramado.

  A vista ao longe era como uma pintura grotesca, tingida com as cores sombrias do desespero. Sua equipe, composta pelos três companheiros remanescentes, estava agrupada ao redor de uma bolsa — o objetivo de sua miss?o — e ao lado de uma figura caída.

  “No fim n?o era só uma coincidência de nomes…”, Ana congelou quando reconheceu sua própria m?e apoiada na parede da caverna, imóvel.

  O choque foi como um golpe, deixando suas m?os trêmulas e sua mente girando. A enigmática sombra estava lá, sorrindo com uma satisfa??o cruel enquanto observava a confus?o de Ana. Sem esperar mais, ela atacou, movida por uma mistura de raiva e desespero, mas com uma mente estranhamente calma.

  — Você n?o entendeu na nossa luta anterior? Ainda n?o é o momento para uma nova tentativa — disse a sombra com um suspiro cansado.

  Os cortes lentos e desajeitados de Ana ainda continham certa precis?o, mas como sua energia estava esgotada ela sabia que n?o iria durar muito tempo. Concretizando seus pensamentos, o cabo da espada acertou pesadamente o lado de seu corpo.

  O impacto do golpe jogou Ana ao ch?o de forma brutal, e por alguns instantes, tudo que ela p?de ouvir foi um zumbido agudo em seus ouvidos. O gosto de sangue encheu sua boca enquanto ela lutava para clarear a vis?o emba?ada. Respirando fundo, ela usou a dor como um alerta para se recompor e se levantar, pronta para enfrentar novamente sua adversária, mas só conseguiu voltar a cair sobre seu joelho.

  Os outros n?o podiam fazer muito além de assistir. Cada um deles carregava seus próprios ferimentos, suas próprias dores, que os tornavam espectadores em seu próprio pesadelo.

  — Saiam daqui, agora! — gritou a garota, sem poder se dar o luxo de prestar aten??o neles. — Levem minha m?e embora junto com a bolsa, completem a miss?o.

  — Sua m?e? Mas que porra… — Júlia encarou Ana e a mulher desmaiada, confusa. Em movimentos rápidos, jogou a mulher com cuidado nas costas de Alex.

  Quando a garota foi recolher o objetivo de estarem ali, uma faca veio voando, prendendo firmemente ao ch?o a já desgastada bolsa de couro.

  — Isso fica comigo — uma voz ecoou no espa?o fechado, cheia de uma autoridade que n?o admitia contesta??o. Sem tempo a perder entendendo a situa??o, os companheiros de Ana agarraram a m?e dela e partiram, deixando para trás o item.

  Foi quando a Colecionadora apareceu, uma figura mítica dentro do submundo que atraiu o interesse de Ana em sua primeira reuni?o. Ela era uma mescla de elegancia e perigo, e ao entrar na caverna, sua presen?a parecia trazer um tom de mistério ao próprio ar.

  — Olha isso, é como Maria disse, uma faca realmente estranha — com movimentos que exibiam uma destreza quase sobrenatural, ela saltou para o lado de Ana. Seus olhos percorreram a arma negra em suas m?os, notando a clara diferen?a de tamanho em rela??o a quando a viu no Madame Eclipse.

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  “Maria andou falando de mim? Parece que uma longa conversa me espera se eu conseguir sair viva daqui, e n?o vai ser nada agradável”, seus pensamentos logo foram interrompidos pela voz imponente, a qual agora mudou de alvo para a sombra.

  — E você, quem é?

  — N?o sou ninguém — a sombra encarou a nova visitante com olhos cheios de curiosidade. — Gosto do seu corpo.

  — Mas que coisa estranha para se dizer para uma desconhecida — um sorriso surgiu no rosto de Natalya pelas palavras inesperadas da sombra.

  — é diferente da garota caída, seu corpo tem um potencial difícil de medir…mas também precisa de tempo, ainda n?o está madura…

  Com um giro de bra?o distorcido, a sombra fez um longo corte vertical em dire??o ao peito da colecionadora. A nova mulher era poderosa, claramente mais forte que Ana, mas ainda assim abaixo da sombra em termos de poder bruto.

  — Que falta de educa??o atacar no meio de uma conversa.

  Cruzando seus bra?os robóticos, Natalya se defendeu do repentino ataque, apesar de ser arrastada por alguns metros pela for?a do impacto. Faíscas voaram por toda parte, fazendo o local escuro se iluminar por um breve momento.

  — é como eu pensava, eles s?o incríveis — Ana estava com os olhos arregalados ao notar que nem mesmo um arranh?o apareceu nos brilhantes membros metálicos. Em uma cena c?mica, seus olhos se encontraram com os olhos da sombra, também surpresa, e um breve aceno de concordancia mútua foi feito.

  — Mais incríveis do que você pensa — Natalya levou um cigarro aos lábios com um ar de desdém casual e uma leve chama saiu de um de seus dedos, acendendo-o. Simultaneamente, com um movimento brusco para baixo, uma fina lamina saiu de seu bra?o direito.

  Ela tragou profundamente, e, em seguida, exalou uma grande nuvem de fuma?a que parecia se mesclar com a escurid?o da caverna. Seus olhos n?o deixaram a sombra por um segundo sequer, fixos em seu adversário com uma intensidade fria.

  — Está na hora de come?ar o incêndio — ela deu pequenos saltos de prepara??o, como uma boxeadora prestes a iniciar o combate no ringue. Seus bra?os come?aram a emitir um calor intenso e uma vibrante luz alaranjada come?ou a se estender por caminhos parecidos com veias, saindo da ponta de seus dedos e chegando até a lateral do seu pesco?o. Um sorriso amedrontador surgiu em seu rosto e um estranho vapor come?ou a exalar de seu corpo, quase como uma aura.

  “Parece que surgiu mais uma com síndrome chuunibyou”, pensou Ana, torcendo a boca ao ouvir o bord?o. Infelizmente ela n?o p?de negar que a mulher estava simplesmente demais.

  De repente, com um movimento rápido e fluido, ela avan?ou, a fuma?a seguindo como um rastro atrás de seus passos. A sombra, surpreendida mas n?o totalmente despreparada, ergueu-se para encontrar o ataque. O confronto foi uma tempestade de movimentos rápidos e precisos. Natalya, com a agilidade de uma combatente experiente, desferiu uma série de golpes rápidos utilizando a lamina que se estendia de seu bra?o robótico. Cada ataque era calculado, destinado a testar as defesas da sua oponente.

  A sombra, por sua vez, esquivava-se com uma gra?a quase sobrenatural, seus movimentos um borr?o na penumbra da caverna. Ela contra-atacava com cortes potentes, tentando aproveitar qualquer abertura deixada por Natalya. Mas a Colecionadora n?o era fácil de atingir; seu corpo mecanico lhe concedia vantagens que um humano comum n?o possuía, podendo defender e atacar em angulos totalmente inesperados.

  Tudo escalou rapidamente, um embate de for?a, técnica e vontade, enquanto Ana e os outros observavam, quase esquecidos, a batalha titanica à frente.

  “Acho que já é hora de voltar para a luta”, recuperando um pouco de sua for?a, Ana se levantou. Utilizando toda a energia que restava em seu corpo, ela se lan?ou na intensa batalha com um movimento surpreendente e arriscado.

  Ela n?o esperava realmente acertar, apenas queria abrir espa?o para Natalya conseguir golpes mais certeiros, mas, para sua surpresa, sua lamina raspou na bochecha direita da sombra, fazendo gotas de sangue escarlates escorrerem lentamente, destacando-se na pele pálida.

  Por um momento, tudo parou. Ana ofegava, observando o sangue manchar o ch?o, sentindo o peso de cada respira??o enquanto a sombra recuava pela surpresa de ter sido ferida.

  “Ela nunca agiu assim, é como se quisesse… devorá-la”, a lamina negra em suas m?os come?ou a brilhar intensamente, vibrando com uma energia que parecia ávida por mais confronto. A Colecionadora notou isso também, seu interesse pela arma cresceu visivelmente.

  Natalya, aproveitando-se da distra??o momentanea, socou com toda sua for?a em dire??o ao est?mago da sombra. Apesar do golpe ter sido defendido, o leve corpo voou em dire??o a parede da caverna. Com um movimento brusco e decisivo, ela tentou finalizar o confronto, mas a sombra desviou no último instante, deixando a lamina de cravada na rocha.

  Vendo a oportunidade neste momento de vulnerabilidade, a sombra largou a longa espada e levantou sua perna esquerda em um movimento suave, mas extremamente rápido. Com uma ferocidade dissonante com seu pequeno corpo, desceu seu calcanhar em dire??o às intrincadas juntas do bra?o preso, rompendo-o de imediato.

  — Idiota — Uma grande labareda saiu do bra?o rompido, indo em dire??o a garota de armadura negra, dando espa?o para Natalya recuar em seguran?a.

  Os preciosos segundos que ganhou foram utilizados para respirar profundamente, sentindo cada músculo de seu corpo pulsar com a adrenalina da luta

  — Ei, eu quero tentar uma coisa — sussurrando para a colecionadora que chegou ao seu lado, Ana pegou uma esfera de seu cinto, um dispositivo n?o maior que uma noz — é algo que fiz no improviso, ent?o talvez mate a gente também…

  — N?o é como se fossemos sair vivas, ent?o quem liga.

  — Bem, quando eu atirar, deite-se no ch?o.

  Com um movimento firme e calculado, ela armou os cinco dispositivos de seu cinto de uma vez, lan?ando-os na dire??o da sombra. As bombas giraram pelo ar, esferas inocentes, mas carregadas com uma energia volátil e poderosa.

  Para a decep??o de Ana, quando a primeira delas atingiu o ch?o, nada aconteceu. E ent?o veio a segunda, a terceira e a quarta, todas sem um único sinal de ativa??o. As duas mulheres deitadas no ch?o criavam uma absurda cena de divers?o e desespero.

  “Droga… parece que agora realmente acabou”, pensou Ana ao ver a sombra, que ficou defensiva pelos itens desconhecidos jogados anteriormente, voltar a correr em sua dire??o.

  No entanto, quando a última esfera atingiu o solo, uma pequena luz surgiu. N?o houve um grande estrondo ou uma explos?o descontrolada, em vez disso, a detona??o foi um espetáculo de precis?o devastadora. Uma onda de choque concêntrica se expandiu, o ch?o tremeu sob uma luz brilhante e uma for?a compressiva, sugando brevemente o ar ao redor antes de liberá-lo em um sopro violento.

  A sombra foi jogada para trás, surpresa e claramente ferida pela explos?o compacta. A poeira e os detritos levantados pelo impacto formaram um véu temporário, e a luz da explos?o refletiu em partículas minúsculas, criando um efeito quase místico na escurid?o da caverna.

  Ana, apesar da exaust?o, permitiu-se um breve sorriso. A bomba havia funcionado — ao menos uma delas — e agora, mesmo que por um momento, a maré da batalha parecia inclinar-se a seu favor.

  — Parece que esse é meu adeus, minha vida n?o vale o risco — a sombra ainda n?o demonstrava emo??es, mas recuou taticamente ao ver que sua m?o direita, a principal no manuseio se sua pesada arma, foi comprometida pela explos?o, apresentando intensas dores ao tentar fechá-la. Com um aceno provocativo para Ana, ela desapareceu na escurid?o da caverna, deixando um rastro de mistério e perguntas n?o respondidas.

  — Mas que doideira — Natalya, respirando pesadamente, apagou o cigarro no ch?o rochoso, o olhar ainda fixo no ponto onde a mulher acabara de sair. A batalha acabou t?o repentinamente que ela n?o p?de deixar de ter suspeitas.

  — Com certeza. Mas o quê você está fazendo aqui? Imagino que n?o estava só passeando por perto, certo?.

  Como se respondendo a pergunta de Ana, a mulher recolheu uma elegante coroa negra de dentro da bolsa, a qual ainda estava pregada ao ch?o.

  — Claro que vim por isso, tem um motivo para me chamarem de Colecionadora — murmurou ela com um grande sorriso enquanto girava o item recém adquirido nos dedos de seu bra?o restante. — Eu vou indo, te desejo uma boa sorte no caminho de volta, ainda tenho que decidir se você merece entrar na minha cole??o.

  “Filha da puta”, Ana mal conseguia se mover, mas n?o p?de deixar de amaldi?oá-la em seus pensamentos. Se o item objetivo fosse levado, toda sua miss?o teria sido à toa. Ela lan?ou um olhar severo para a figura que se afastava, marcando na memória a promessa de um reencontro futuro que a Colecionadora insinuou com um olhar misterioso.

  Exausta e abalada, Ana se permitiu um momento de fraqueza, encostando-se na parede fria da caverna. A dor de suas feridas era intensa, mas era a dor em seu cora??o que mais consumia suas for?as. A perda de Marina, a condi??o de sua m?e, a batalha contínua pela sobrevivência - tudo parecia pesar toneladas sobre seus ombros. Com a cabe?a baixa, ela murmurou para si mesma.

  — Eu vou me tornar forte o suficiente para ter minha morte pacífica. Eu vou… dominar esse mundo.

  O eco de sua promessa se perdeu nas sombras da caverna, um voto silencioso para os dias incertos à frente.

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