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Capítulo 9 - Confronto

  O ar parou. Ana permaneceu imóvel, um frio desconhecido percorrendo sua espinha enquanto o sangue ainda morno escorria pelo tecido de sua roupa. Os sons da vida selvagem e da atividade humana em torno dela pareciam ter se silenciado, substituídos por um zumbido ensurdecedor em seus ouvidos. A realidade da situa??o se instalou lentamente, como o crepúsculo caindo sobre o mundo.

  “De onde veio o sangue?”, seu olhar rapidamente varreu o ambiente, a adrenalina acelerando seus sentidos. Ent?o ela viu, n?o muito longe, uma cena que faria seu cora??o parar, se n?o estivesse t?o acostumada à brutalidade de sua longa existência.

  Um dos jovens ca?adores que ela acabara de passar, um jovem que ela lembrava ter um sorriso no rosto e uma espada ao lado de seu corpo, jazia sem um dos bra?os em uma po?a de sangue no ch?o. N?o havia sorriso agora, apenas uma express?o vazia e olhos que n?o viam mais. Ao lado dele, os outros membros do grupo estavam congelados, suas express?es um misto de choque, medo e incompreens?o.

  A maga que havia retribuído seu aceno estava pálida, a m?o estendida como se pudesse trazer o amigo de volta com um simples gesto. A ruiva e o outro homem olhavam para Ana, seus olhos enchendo-se de uma acusa??o silenciosa.

  — O que est?o olhando? N?o fui eu que fiz isso — ao completar a frase, uma fria respira??o passou por seu ombro, fazendo-a entender o motivo dos olhares.

  Uma criatura como Ana nunca tinha visto antes, mesmo em seus mil anos de vida, estava emergindo das sombras das árvores atrás dela. Era um ser de pesadelos, se parecia com um lobo, mas seus longos e esguios membros chegavam quase à altura de uma pessoa adulta. Seus olhos brilhavam como brasas em um rosto distorcido por uma fome insaciável e o bra?o do jovem ca?ador pendia em sua mandíbula.

  — Monstro de rank D! Corram! — Despertando do choque inicial, a garota ruiva gritou para seus companheiros. Apesar de ter lan?ado um último olhar para seu amigo caído, ela n?o parou de correr, querendo sair o mais rápido possível daquele lugar.

  Nesse instante uma nova criatura saiu de trás das árvores na dire??o em que a ruiva estava indo, fazendo-a cair ao parar bruscamente. Seu corpo era uma massa de ossos cobertos por uma aparente fina camada de pele, movendo-se de uma forma pouco natural que causava arrepios em seus observadores.

  — Droga, se espalhem! Alguém tem que sobreviver! — A garota ruiva, que agora tinha uma express?o ainda mais amedrontada, gritou ordens, tentando organizar uma fuga improvisada.

  Os ca?adores restantes se recuperaram com este último grito, pegando suas armas com m?os trêmulas. Mas Ana sabia que eles n?o estavam prontos para enfrentar tal adversário.

  — Vamos lá, Ana — ela sussurrou para si mesma, sua mente analítica tomando controle. A faca em sua m?o de repente parecia inadequada, trivial contra a amea?a diante dela. — Hora de descobrir o que você realmente é capaz de fazer sem a mana.

  Respirando fundo, ela avan?ou, n?o para atacar, mas para colocar-se entre os jovens ca?adores e a criatura mais próxima. Suas a??es n?o eram de heroísmo, mas de necessidade.

  “Eu n?o vivi mil anos para morrer atoa na minha primeira batalha real”, Ana n?o sabia o que um monstro de rank D representava, ent?o qualquer ajuda em seu experimento inicial era válida.

  A outra criatura parecia estar brincando com os jovens, dando longos saltos sempre que algum deles mudava de dire??o para fugir. Apesar de seu rosto animalesco, uma vaga express?o de deboche podia ser vista.

  — Vocês aí, n?o parece que vai ser t?o simples fugir. Juntem-se!

  Grande parte de seu conhecimento estava inutilizável, mas Ana ainda era uma mestra de todas as artes. O tempo parecia parar enquanto ela come?ou a observar as criaturas.

  “Seus membros parecem instáveis, mas seus movimentos ágeis sugerem uma for?a e velocidade que n?o devem ser subestimadas. Talvez a chave para derrotá-los n?o esteja na for?a bruta, mas em aproveitar suas próprias habilidades contra eles.” Ana concentrou-se, sua mente correndo por memórias de batalhas que simulou milhares de vezes em sua mente.

  — Mirem nas articula??es, ataquem logo após o recuo do salto! — apesar de gritar as ordens, Ana n?o teve tempo de se virar para ver se os outros a seguiram.

  O ar ao redor dela carregava uma tens?o elétrica, como se a própria natureza estivesse segurando a respira??o. A criatura diante de Ana avan?ou, movendo-se com uma velocidade sobrenatural, suas garras estendidas como laminas de pura escurid?o.

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  Ana se posicionou firmemente, estendendo a faca em sua m?o direita e calculando o momento exato do ataque, se movendo com uma precis?o que desafiava a física esperada para um corpo humano. Seu primeiro golpe foi uma dan?a com a morte, deslizando sob um golpe da criatura que teria certamente significado o fim para qualquer outro.

  Um fino fio de sangue saiu do bra?o do grande monstro. Confuso pelo ataque n?o ter encontrado o alvo, ele rugiu e correu novamente em dire??o a Ana com sua mandíbula aberta.

  A luta foi uma orquestra de caos. A cada ataque que ela desferia, a criatura respondia com uma fúria selvagem, mas estranhamente n?o conseguia fazer a pequena garota recuar.

  “A pele é mais grossa do que parece, mas sua for?a n?o é extraordinária.”

  Com pensamentos que fariam qualquer outro ficar indignado pelo absurdo, Ana deslizou pelo lado do grande “lobo”, seguindo com novos cortes em cada abertura.

  A batalha n?o foi silenciosa. O metal cantava contra as sombras, e gritos de dor e de guerra se misturavam ao som de cora??es batendo em desespero. Ana se movia com a memória de seus músculos, cada movimento reflexivo, cada decis?o um cálculo feito no calor do momento.

  Em um movimento inesperado, a criatura mordeu ferozmente em dire??o ao seu rosto, mas foi impedida pela armadura que cobria seu bra?o.

  — é mais fraco do que eu pensei que seria, essa deve ser a limita??o do a?o… parece que vou ter que voltar para a bigorna — foi possível sentir a forte press?o através do metal, apesar de n?o ter causado danos sérios.

  Aproveitando a breve distra??o das mordidas descontroladas em seu bra?o, ela atravessou a faca no ombro esquerdo do monstro, fazendo-o cair repentinamente pela surpresa. O sangue espirrou como uma fonte quando pela primeira vez ela conseguiu atravessar a forte defesa.

  Neste momento, enquanto gritos desumanos eram ouvidos no ch?o, uma estranha aura sombria, mas gentil, chamou a aten??o de Ana.

  — Gabriel?! — gritou ela com surpresa, olhando em volta ao se esquecer da batalha por um breve momento.

  Um ardor em sua m?o chamou sua aten??o, tirando-a da confus?o de n?o ter encontrado o anjo ao seu lado. Uma aura vermelha brilhava sutilmente sobre a arma.

  — Um presente para você, criadora obstinada… — Ana repetiu as palavras ditas séculos atrás, quando uma única gota de sangue penetrou em sua obra recém feita.

  Enquanto ficava presa em sua nostalgia, um bra?o contorcido veio voando em sua dire??o, acertando de surpresa seu est?mago e a fazendo voar contra uma árvore, explodindo-a no mesmo instante.

  — Que estupidez! Quando vou entender que n?o estou mais sozinha?

  Levantando-se lentamente e cuspindo um bocado de sangue, Ana avan?ou novamente, concentrando toda a sua for?a, habilidade e esperan?a na faca que carregava. A criatura, agora mancando, também correu em sua dire??o, preparando seu ataque com a mesma determina??o que sua adversária.

  Deslizando por baixo das garras que vinham em sua dire??o por um fio de cabelo, ela girou seu corpo, aproveitando a for?a centrífuga para acertar um chute com todo seu peso na caixa torácica do monstro.

  A criatura soltou um grito agonizante enquanto seu corpo subia levemente do ch?o. Sentindo o momento perfeito instintivamente, Ana direcionou a faca para seu queixo, atravessando com precis?o sua cabe?a e espalhando fluidos por toda parte.

  Assim que confirmou que o lobo parou de se mover, a garota caiu ao ch?o, exausta, a faca escorregando de seus dedos agora relaxados. Ela respirava pesadamente, cada sopro um testemunho da batalha que havia travado. Ela venceu, mas n?o sem custos. Seu bra?o estava ferido e seus órg?os tremiam, seu corpo estava marcado pela batalha.

  “Talvez eu n?o tenha futuro como ca?adora”, pensou, de forma resignada, ao sofrer para matar um simples inimigo de rank D. Apesar disso, ela mesmo n?o percebeu que seu rosto estava preenchido com um sorriso quase maníaco de prazer.

  Ana olhava fixamente para a faca caída a seu lado, que voltou a brilhar levemente após matar a criatura, mas neste momento os sons de outra batalha próxima chegaram aos ouvidos.

  — Merda, isso vai ter que ficar para depois.

  Pegando novamente a arma e se levantando com certa dificuldade, ela observou a luta que se desenrolava na sua frente. A garota ruiva estava aos farrapos, sangue saia de todo seu corpo e uma de suas pernas n?o parecia se mover. Apesar disso, ela continuava disparando flechas de longe incessantemente, mesmo com seus dedos já em carne viva.

  O jovem com a lan?a parecia chorar enquanto atacava a cada pequena abertura, seus gritos mostravam seu ódio e tristeza, mas a realidade é que sua for?a restante n?o era suficiente para sequer perfurar a carne do monstro adequadamente.

  Já a maga, apesar de n?o estar ferida como seus companheiros, mal conseguia se manter em pé. Sua respira??o estava pesada e ela se apoiava fracamente em um cajado maior que seu corpo. Parecia que ela iria cair a qualquer momento, mas ainda assim uma luz continuava a sair de suas m?os sempre que a criatura se preparava para atacar, Ana imaginou que seria algum tipo de distra??o, pois n?o parecia causar danos.

  “Eles n?o s?o ruins, mas s?o muito fracos… além disso, o que esses idiotas est?o fazendo? Eu n?o mandei focar nas articula??es?”

  Ela hesitou por um momento, pensando se deveria ou n?o ajudar eles, mas por fim correu em dire??o a luta. O mundo havia mudado, e ela também teria que mudar com ele.

  — Saiam da frente!

  Avistando o grande martelo da garota ruiva abandonado no campo de batalha, Ana foi em dire??o a ele. Apesar de exausta, usou toda a for?a para pegá-lo com seu bra?o esquerdo, com a faca ainda firme em sua m?o direita.

  Os ca?adores n?o se moveram em um primeiro momento, mas vendo o corpo da outra criatura ao fundo e a estranha garota correndo em sua dire??o, entenderam que era sua única chance de sobreviver, se afastando rapidamente.

  Com a for?a acumulada durante a corrida, Ana desferiu um golpe extremamente pesado em dire??o a perna direita do monstro que ainda brincava com os ca?adores.

  BOOOM!

  O martelo fez um barulho estrondoso ao acertar a pedra em sua frente, o monstro havia desviado no último momento. Apesar de n?o ter deixado aparente, ele era mais inteligente do que demonstrava, havia cautela em seus movimentos ao perceber que seu companheiro estava morto.

  — Filho da puta! — Ana saltou para trás apressadamente ao perceber a esquiva repentina, mas ainda foi acertada na perna por uma das garras, causando um ferimento profundo. A criatura voltou a mostrar uma express?o de zombaria enquanto a encarava.

  “Quem imaginaria que tudo iria acabar logo no primeiro dia”, com um sorriso de escárnio, ela se preparou para o fim. No entanto, ele n?o chegou.

  Uma flecha veio voando e acertou o olho esquerdo do lobo durante sua distra??o. Enquanto ele se virava para retalhar seu atacante, uma luz ofuscante cegou seu olho restante, e uma lan?a vinda de cima acertou o topo de sua cabe?a, a fazendo baixar bruscamente.

  — Isso é pelo meu irm?o, desgra?ado!

  Aproveitando o grito choroso do jovem, Ana usou toda a sua for?a na perna restante e atravessou a cabe?a em queda do monstro, matando-o de imediato.

  “Pois é, n?o estou sozinha”

  Lembrando a si mesma deste fato pela terceira vez no dia, Ana desmaiou.

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