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Capítulo 12 - Guildas

  "Engenharia Mágica: Um estudo das aplica??es de mana em tecnologias emergentes", o título parecia zombar de sua compreens?o limitada do mundo atual.

  Ana estava jogada na cama, mergulhando vorazmente nas meras 50 páginas à sua frente. Era um livro curto, mas surpreendentemente informativo, sendo possível entender de forma resumida e concisa a extens?o das pesquisas humanas sobre a engenharia mágica até o momento. N?o se tratavam apenas de próteses, o mundo estava sendo lentamente remodelado: estruturas que desafiam as leis da física, tecidos vivos que se regeneram e máquinas de todas as áreas cujo funcionamento se baseia em uma mistura rudimentar de componentes elétricos com manipula??o da mana.

  Com o livro firmemente preso em suas m?os, Ana olhou pela janela, agora com as ruas vistas sob uma nova luz. Cada lampada, cada pedra, pessoa e veículo, tudo parecia conter segredos à espera de serem desvendados.

  “Eu preciso aprender, mas para isso, preciso de dinheiro”

  A troca recente com Maria veio à sua mente. Reconhecendo que o dinheiro ainda movia o mundo, mesmo nessa nova realidade, ela olhou em dire??o ao centro da cidade, pensando se deveria ir de encontro com as guildas. A cada minuto que passava, Ana sentia que estava ficando para trás.

  “Era melhor eu ter conversado com a Jasmim primeiro”, seus pensamentos se perderam quando notou que que n?o havia feito esfor?o para entender a situa??o de sua família. Claro, ela havia conversado durante o reencontro, mas o que fizeram para sobreviver? Qual a guilda de sua irm?? Elas sofreram? Lutaram? Se divertiram? Ana n?o sabia. Ela n?o sentiu interesse real por tudo isso, logo n?o perguntou, apenas prestou uma leve aten??o no que estava sendo dito sem se aprofundar mais. Era uma indiferen?a provinda da solid?o prolongada, n?o algo que pudesse controlar.

  Coincidentemente, ao mesmo tempo em que pensava na irm?, ela viu a garota sentada em um café do outro lado da rua. Jasmim parecia pensativa, mexendo o café em um ritmo lento, quando um grupo de jovens se aproximou. Por um breve momento, ela ponderou atravessar a rua e se juntar a eles, mas ao ver os sorrisos e a conversa animada que se iniciou, Ana sentiu que esse n?o era mais um mundo feito para ela.

  — N?o tenho motivos para esperar, preciso entender o mundo por mim mesma — murmurando sozinha, ela colocou a faca em sua cintura e lan?ou um olhar resignado para a armadura semi destruída enquanto saia do quarto, prometendo restaurá-la assim que possível.

  — Ana, bom dia!

  — Oi m?e, bom dia.

  Diversas vasilhas, de todos os tamanhos e cores, estavam soltas pelo balc?o da cozinha, fazendo um forte cheiro de ervas se espalhar pelo ar. Margareth usava um avental sujo e uma sutil luz azul estava presente em seus olhos, muito semelhante à habilidade utilizada por Maria.

  — M?e… o quê está fazendo?

  — Trabalhando, garota boba — respondeu ela com um meio sorriso — Sou uma herborista.

  — Isso é incrível, n?o sabia que você tinha essas habilidades.

  — Bem, eu também n?o sabia até que tudo isso come?ou — Margareth deu de ombros, a luz azul em seus olhos piscando enquanto ela concentrava sua mana em uma po??o particularmente densa do líquido que manipulava. — Mas n?o passei os últimos anos parada. Tive que aprender e me adaptar.

  Apesar da conversa aparentemente normal, Ana sentiu certa estranheza no ar. Os olhos de sua m?e vagavam das ervas em suas m?os para o rosto de Ana, a encarando profundamente com uma express?o que n?o condizia com o sorriso em seu rosto. Seus olhos brilhantes estavam tornando a cena cada vez mais perturbadora conforme estas a??es se repetiam.

  — E como isso funciona, você faz algum tipo de avalia??o nas ervas? — perguntou Ana, indicando os olhos destacados com um aceno, movida tanto pela curiosidade quanto por uma tentativa de fugir do olhar inc?modo.

  — Avalia??o? Ah, você notou os olhos? Na verdade, sou uma leitora.

  — Leitora?

  — Oh, sim, me esqueci que você n?o esteve nas cidades… — a men??o das cidades parecia uma alfinetada sutil, a qual Ana ignorou — Leitor é um termo para aqueles que podem “ler” os fluxos do universo. é uma situa??o um pouco rara, mas ao invés de termos nossos corpos fortalecidos de forma sobre humana ou veias que permitem a manipula??o da magia, nossos sentidos foram aprimorados ao limite.

  Margareth pausou, colocando de lado a po??o com a qual trabalhava, e se virou completamente para Ana. Uma m?o esguia foi deslocada para a arma oculta abaixo do balc?o.

  — Quando despertei, era como se eu estivesse conectada a tudo que existe. Eu passei a ouvir a pulsa??o silenciosa do mundo, sinto cada elemento da natureza como se fosse parte de mim mesma… a mana circulando por tudo ao meu redor, sejam objetos ou pessoas, se mostra voluntariamente quando a chamo.

  “Ela sabe sobre mim”, percebeu Ana, intrigada com a descri??o de sua m?e e surpresa com suas palavras claramente direcionadas a ela. Era um aspecto da magia que nunca havia considerado. A ideia de que cada elemento da natureza tinha uma sensa??o própria n?o era estranha, ela se esfor?ou para se conectar com as existências ao seu redor em seus anos de aprendizado, podendo sentir um tipo de “vibra??o” única para cada um deles, mas a ideia de que a magia poderia ser usada para entendê-los mais a fundo abriu novos horizontes em sua mente.

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  — é fascinante — se aproximando do balc?o, a garota tocou a planta mais próxima, uma estranha espécie azulada que nunca havia visto. Pequenas raízes calorosamente enrolaram-se em seu dedo, a fazendo sorrir pela surpresa. — Eu pensei que às entendia bem, é uma pena que n?o possa senti-las como você. Parece que você encontrou sua voca??o, m?e.

  — Talvez eu tenha encontrado, — respondeu Margareth com um novo sorriso genuíno em seu rosto. A cena à sua frente fez com que a intensidade de seu olhar suavizasse um pouco.

  “Ela foi acolhida como família”, suas suspeitas n?o foram embora, sua filha era uma existência inexplicável que n?o deveria existir nesse mundo. Entre as milhares de partículas vivas fluindo de forma caótica, Ana era uma massa de escurid?o, um ser macabro que trazia um medo instintivo.

  No entanto, vendo a pequena planta se aconchegando em seu corpo como se fosse de sua própria espécie, Margareth sentiu, no nível do instinto, que Ana n?o era “algo” ruim.

  — Você é t?o fofa! — ainda com o sorriso no rosto, Ana puxou a raiz repentinamente, estourando-a sem muita resistência — Fico feliz que você n?o existia a alguns anos atrás, se n?o eu sentiria ainda mais inveja. Tanta vida!

  Arregalando os olhos de surpresa, a mente de Margareth ficou em branco com a rea??o bizarra que presenciou. Arrepios passaram pelo seu corpo e suas m?os voltaram a apertar firmemente a arma, desta vez, sem vacilar.

  Com uma express?o sombria, Ana caminhou em dire??o ao centro da cidade. Seus olhos estavam fixos no caminho à frente, mas sua mente estava distante.

  “Fico feliz que ela n?o tenha tentado nada estúpido”, pensou a garota, acariciando o pomo de sua faca.

  Ela n?o havia visto, mas pode sentir claramente a inten??o de sua m?e em vários momentos da conversa. Quando sua posi??o fixou-se próxima ao balc?o, Ana instintivamente se preparou para atacar. Ela se aproximou lentamente, vendo a rea??o que Margareth teria a cada passo dado, preparada para sacar a lamina na menor amea?a.

  Felizmente, tal situa??o n?o chegou. Ana p?de ver a clara baixa de defesas de sua m?e após ter interagido com a maldita planta azul.

  “Preciso esclarecer algumas coisas com ela mais tarde, também n?o entendo o motivo de n?o ter mana”, ela n?o havia encontrado casos semelhantes ao dela na internet, ent?o tentou entender a desconfian?a de Margareth como algo natural em um mundo cheio de perigos a cada curva.

  “Ainda assim, uma conversa n?o resolveria isso? As pessoas s?o t?o complicadas…” , seus pensamentos pararam ao chegar à uma das principais guildas da cidade.

  Barueri era um cidade comum, assim como muitas outras cidades vizinhas. Após a Terra e Aurórea se fundirem, uma curta regi?o próxima ao centro continuou a existir de forma concreta, ainda mantendo prédios e pequenas constru??es quase intactas, sendo esta a regi?o protegida pelos muros construídos recentemente. As demais partes da cidade se afastaram com a expans?o de terreno, tornando-se ruínas abandonadas, o novo lar de criaturas misteriosas.

  Desta forma, apenas 3 guildas tinham suas bases estabelecidas ali. N?o eram guildas grandes, pelo contrário, seus maiores talentos n?o passavam de ranks C, mas já eram mais do que o suficiente para a maioria dos monstros das redondezas.

  O prédio à sua frente era grande e majestoso, sendo um dos edifícios vindos diretamente de Aurórea. Seus entalhes lembravam antigas catedrais, mas sua estranha decora??o era rústica, tirando um pouco da elegancia natural da constru??o e colocando no lugar uma anima??o moderna que, estranhamente, combinava muito com a atmosfera da regi?o.

  Um grande bras?o adornava a entrada. Sobre um fundo azul claro, um grifo majestoso estava em pleno voo, com as asas douradas abertas e as garras estendidas, pronto para agarrar sua presa. Acima do grifo, uma coroa de louros dourada reflete a honra e o respeito conquistados pela guilda. Uma grande placa anunciava o nome da guilda ao mundo: Guilda dos Grifos

  “Mas que nome criativo”, riu ironicamente Ana ao analisar o detalhado bras?o.

  Ela observou o movimento constante de ca?adores entrando e saindo, suas express?es variando de exaust?o a triunfo. Respirando fundo, ela cruzou o limiar, determinada a se inscrever e come?ar sua jornada para se tornar mais do que um mero espectador deste mundo renovado.

  O hall de entrada do prédio estava mais calmo do que o esperado. Alguns pequenos grupos murmuravam pelos cantos, funcionários ocasionais davam passos rápidos pelos corredores e ca?adores solitários descansavam apoiados nas paredes. No centro, um balc?o sem gra?a era monitorado por um recepcionista sem gra?a, um homem alto e magro com aspecto cansado que praticamente dormia apoiado em seus bra?os.

  — Boa tarde!

  — Boa tarde. Como posso te ajudar? — dizendo as palavras lentamente e com clara má vontade, o balconista olhou para Ana. De relance a garota notou um crachá em seu peito, ironicamente em um tom animado que dizia “Bem vindo, aventureiro! Pode me chamar de Jorge!“

  — Eu gostaria de me inscrever na guilda.

  — Preencha os papéis e espere na fila — disse Jorge, entregando alguns formulários.

  O espírito de Ana afundou um pouco. “Onde está a magia e a emo??o que uma guilda de fantasia deveria ter? Me sinto renovando a CNH!”, apesar dos pensamentos aleatórios, os papéis foram rapidamente preenchidos e ela foi para o local onde aparentemente deveria estar a fila, apesar de apenas ela estar lá.

  — ótimo. O processo é simples. Seus dados v?o ser avaliados internamente, n?o somos muito exigentes. Agora só precisamos apenas saber seu rank. Pe?o que coloque suas m?os sobre a esfera. — apontando para uma pequena esfera branca ligada a um computador, Jorge se levantou de sua mesa.

  Ana aproximou-se da esfera com um misto de curiosidade e apreens?o. A tecnologia e a magia fundidas de tal forma eram novas para ela. A esfera, lisa e fria ao toque, come?ou a emitir um brilho suave quando Ana colocou suas m?os.

  Jorge observava o monitor atentamente, esperando que os dados aparecessem, mas sua express?o logo se tornou confusa. Ele franziu a testa, verificou as conex?es do dispositivo e pediu a Ana que tentasse novamente. Após uma segunda tentativa, o mesmo resultado: a esfera permanecia inalterada, sem reconhecer presen?a significativa de mana em Ana.

  — Reprovada — murmurou Jorge, batendo um grande carimbo vermelho no formulário de Ana. Notando a confus?o da garota, ele continuou. — é um detector básico, podemos apenas ver de forma bem superficial se a quantidade de mana presente em seu corpo atinge os requisitos. Parece que você tem menos mana do que um ca?ador rank F, que é o menor nível detectado pelo dispositivo. O sistema a classifica como um civil sem capacidades de mana registráveis.

  Ana já esperava algo assim, mas n?o p?de deixar de morder os lábios com certa raiva. Ela sabia que era forte, que havia treinado e lutado por séculos, mas esse mundo novo parecia regido por regras em que seu esfor?o era inútil.

  — Lamento, mas sem a quantidade mínima de mana, n?o podemos aceitá-la como membro ativo da guilda. As regras s?o claras quanto a isso, para a seguran?a de todos os envolvidos.

  — Existe algum outro tipo de teste?

  O aceno negativo de Jorge foi resposta suficiente. Um longo suspiro saiu de seus lábios enquanto encarava novamente as ruas do centro. Ela nem mesmo se dirigiu às outras duas pequenas guildas, sabendo que chegaria na mesma situa??o.

  Uma guilda era necessária para buscar e aceitar miss?es legalizadas, sejam essas emitidas pelo governo ou por outros cidad?os, estar fora desse sistema significava navegar por um caminho solitário, criminoso e potencialmente perigoso.

  “Se eu n?o posso me unir a eles do jeito tradicional, talvez exista outro caminho", pensou ela. “N?o é sempre assim nos filmes? Sempre existe uma rede de indivíduos talentosos no submundo. Só preciso encontrar.”

  Ela procuraria por aqueles que, como ela, operavam nas sombras do sistema estabelecido, aqueles que talvez n?o se encaixassem perfeitamente nos moldes das guildas tradicionais. Mercenários, aventureiros independentes, ou até mesmo acadêmicos ocultos que pudessem ter interesse em suas habilidades para obter itens ilegais. Conhecimento era caro, e Ana n?o ligava para como iria pagar.

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