“é t?o idiota, qual o sentido de ter um contador de mortes em uma faca? Que piada macabra, anjo estúpido!”, Ana estava perdida em pensamentos após se separar do grupo na entrada da cidade. Ela caminhava lentamente, tentando entender o que estava acontecendo com sua arma. Apesar da testa franzida, um sorriso melancólico estava em seu rosto ao lembrar dos longos anos ao lado de Gabriel.
Exatos 25 novos riscos apareceram na lamina após a luta contra os goblins da madrugada anterior, como se fossem um registro palpável da sua brutalidade. A faca, antes t?o escura quanto a noite, agora apresentava marcas brancas que davam a impress?o de desgaste.
A princípio, pensou que o a?o temperado estivesse falhando contra os seres místicos do novo mundo, mas conforme atravessava as criaturas com a lamina, a realidade se mostrou ainda mais bizarra: uma morte, um arranh?o!
“Todo o meu esfor?o para forjar algo elegante está indo pro ralo…”, lamentava, mas dentro dela, uma chama de curiosidade insaciável come?ava a arder mais forte.
Ana brincava com o fato ridículo de um “contador em forma de riscos” existir, mas n?o era apenas isso que havia percebido durante a noite.
“Pensei que estava ficando louca, mas ela está realmente ficando maior”, sua percep??o anterior n?o estava errada, ao segurar a faca contra a luz um v?o de quase 1cm podia ser visto entre o cabo e a bainha, dando uma impress?o de ser um arranjo improvisado.
N?o era uma coisa que podia ser explicada com o senso comum, afinal, um metal era um metal, n?o um ser vivo. Mas lá estava a prova, como se proliferando seus átomos do além, a lamina crescia, zombando de toda raz?o.
“N?o que uma faca crescendo seja a coisa mais estranha por aqui… magia, monstros, anjos… minha vida é uma bagun?a!”, conversando consigo mesma, Ana come?ou a rir. Se n?o estivesse t?o distraída, a garota notaria m?es cansadas tirando as crian?as das ruas ao ver uma aparente maníaca rindo sozinha enquanto encarava uma faca, com um estranho saco de pano cheio de longos ossos balan?ando em suas costas.
Neste momento de devaneio, ela esbarrou em um caixote na beira da estrada, derramando seu conteúdo. Livros dos mais variados tipos foram espalhados pela cal?ada.
Enquanto se abaixava para recolhê-los, seu olhar foi capturado por um volume em particular, de capa escura e letras douradas: "Engenharia Mágica: Um estudo das aplica??es de mana em tecnologias emergentes". Um sorriso ir?nico cruzou seu rosto.
— Quanta coincidência… — murmurou, segurando o livro como se fosse um tesouro recém-descoberto.
— Você sempre faz compras jogando tudo no ch?o primeiro? — a voz veio carregada de uma irrita??o jovial. Maria, com seus dezessete anos e olhos que pareciam registrar cada detalhe, aproximou-se com um passo decidido. Seus olhos vagaram entre Ana e a estranha faca em suas m?os, e por um momento, houve um silêncio desconfortável.
— Desculpe pela bagun?a. Este livro tem um pre?o? — erguendo-se com o livro ainda em m?os, lan?ou um olhar avaliador na dire??o da voz, intrigada n?o apenas pelo livro, mas pela jovem vendedora com um ar de mistério. Suas roupas comuns estavam um pouco desgastadas e seu cabelo ondulado chegava até sua cintura, sendo adornado por um largo chapéu. Seu sorriso era astuto e seus olhos n?o escondiam sua ganancia, mas a garota transmitia uma sensa??o acolhedora que tornava difícil sentir raiva, mesmo com suas palavras rudes.
Maria sorriu, mas havia algo calculista em seu olhar, o qual ocasionalmente ainda era direcionado para a faca nas m?os da estranha garota.
— Bem, isso depende. Para você, querida cliente, o livro vale 20 moedas de prata — apesar de sua ganancia, a garota soltou as palavras cuidadosamente, se preparando para se afastar, se necessário.
“Mas que merda s?o moedas de prata?”, Ana estava confusa, quando pegou sua velha carteira de manh?, a qual havia sido restaurada durante o retorno da humanidade, n?o pensou que o sistema monetário teria mudado.
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— é o pre?o do conhecimento! — interpretando o silêncio como uma reclama??o indireta, Maria soltou uma explica??o.
“Ela pegou meu ponto fraco”, a frase fez o sorriso de Ana voltar a seus lábios, conhecimento n?o era algo leviano para a garota milenar.
— N?o estou com dinheiro no momento, aceita fazer algumas trocas?
Maria deu de ombros, mas seus olhos brilhavam com certo interesse n?o disfar?ado. Com a aprova??o da garota, Ana removeu lentamente alguns poucos ossos que estavam presos em suas costas.
— Acredita ser o suficiente?
Ao ver que eram apenas ossos, o animo de Maria foi um pouco apagado, mas com um suspiro ela se aproximou para avaliar o item. Um estranho raio azul come?ou a passar pelo olho esquerdo da jovem, circulando lentamente por suas pupilas até criar um estranho padr?o.
“A concentra??o de magia do osso é incrível… é uma criatura de rank E? N?o… Rank D!”, Maria n?o pode deixar de exclamar ao notar de onde os ossos vieram, mas sua express?o rapidamente se acalmou, n?o querendo perder a vantajosa proposta.
— N?o sou uma vendedora de itens diversos, ganho a vida vendendo livros… mas vendo sua forte vontade, vou aceitar a troca.
Ana soltou um suspiro profundo, seus olhos estreitando-se enquanto observava o peculiar fen?meno mágico de Maria. “Avalia??o de mana?”, ela pensou, tecendo hipóteses ao redor da inédita magia – uma habilidade intrigante que despertava tanto seu ceticismo quanto sua insaciável curiosidade. Pela rea??o da jovem ao encarar os ossos, era claro que ela saiu em uma perda, mas n?o havia o que fazer no momento. Ela só queria chegar logo em casa para descansar.
“Bom, só posso me culpar por n?o ter me preparado melhor para o mundo”
No momento em que Ana estava prestes a fechar o acordo, o olhar de Maria foi novamente para a faca, n?o por interesse, mas sim por uma coincidente distra??o. Neste momento, seu olho esquerdo que brilhava com um chamativo azul elétrico se arregalou de espanto e uma dor profunda fez seu corpo paralisar.
O mundo ao seu redor era apenas um infinito negro, um universo sem estrelas. Sua mente n?o conseguia raciocinar e quando percebeu estava gritando de forma descontrolada, mas o silêncio devorava suas palavras. Ela n?o sabia se estava de pé em algo, flutuando ou apenas caindo, seu corpo n?o sentia nada. Impulsos de morte perturbadores come?aram a brotar em seu cora??o, querendo acabar com esse desespero.
— Ei, você está bem?
A voz suave, como uma luz no fim do túnel, a tirou de seu estupor. Ana a encarava com a cabe?a inclinada pro lado, confusa com a garota de olhar perdido em sua frente.
— Ah, me desculpe! N?o sou t?o hábil na técnica de avalia??o, acabei me distraindo ao desativá-la. Por sinal, me chamo Maria. Posso conhecer seu nome? — Maria engasgou, sua respira??o irregular e ofegante, enquanto tentava manter a compostura, lutando para afastar o terror que se agarrava ao seu cora??o. Confirmando que o mundo voltou ao normal, ela cobriu rapidamente seu olho esquerdo com uma das m?os, tentando disfar?ar a situa??o.
— Claro, me chamo Ana. Aqui est?o seus ossos, foi um prazer te conhecer — n?o querendo se meter em assuntos de outras pessoas, mesmo notando a estranheza da situa??o, Ana apenas concluiu o negócio com uma frase curta e come?ou a se afastar.
— Também foi um prazer, até logo, Ana. Algo me diz que nossos caminhos v?o se cruzar de novo.
Ao ficar sozinha, Maria tirou a m?o que cobria seu olho. Lágrimas de sangue come?aram imediatamente a escorrer em um fluxo incessante.
— Uma mulher com segredos… aquela faca exala escurid?o… — em meio a murmúrios solitários, ela se jogou novamente na pilha de livros em que estava antes do estranho encontro de agora. Pegando seu celular do bolso, fez uma liga??o com dedos ágeis.
— Natalya? Como vai, querida cliente? — sua atitude jovial e alegre se tornou algo sério ao ser atendida. A voz do outro lado da linha apressava a jovem, com clara impaciência. — Acho que encontrei uma nova arma para sua cole??o…
Maria observou a silhueta de Ana desaparecer na multid?o, memorizando cada detalhe, um plano formando-se em sua mente astuta. Seus pensamentos continham um pedido de desculpas antecipado por todos os problemas que sua liga??o causaria.
“Cada pe?o em seu devido lugar”, pensou ao limpar as lágrimas, as únicas testemunhas silenciosas das engrenagens do destino movendo-se implacavelmente.
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