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Capítulo 25 - Gaveteiros

  “Uma coroa de prata parece ter suas vantagens”

  Esse era o pensamento de Ana enquanto lia o relatório que foi entregue em sua casa pela organiza??o, detalhando seus novos direitos e deveres.

  Os benefícios de um prata patrono eram basicamente o dobro do que era entregue a um bronze fundador: seu patrocínio, já generoso anteriormente, subiu para 20 moedas por mês e o tempo entre miss?es especiais agora era de trinta dias, n?o quinze, dando um maior tempo para as prepara??es.

  Ana distribuiu sua nova renda de forma prática, sendo quatro moedas para seu covil, o qual agora estava financiando uma compra, n?o só alugando, quatro moedas para sua poupan?a pessoal, três moedas para materiais diversos e três moedas para cada cavaleiro sob seu comando.

  Era um salário muito alto para simples membros de um grupo, mas ela sabia que a melhor forma de comprar a lealdade de alguém era com dinheiro, ent?o decidiu n?o ser mesquinha com as pessoas que poderiam ter sua vida nas m?os em um futuro próximo.

  “A única desvantagem é que esses doidos n?o param de aparecer”, já era o terceiro adversário que se anunciava para pedir um desafio contra a nova rainha. A fama de seu rápido crescimento e o vídeo divulgado nas redes da luta na arena estavam atraindo cada vez mais o interesse, seja de ca?adores ou de outros trabalhadores do submundo.

  — Meu nome é Luiz, sou um ca?ador rank C, imagino que estejamos no mesmo nível. Eu formalmente pe?o que me enfrente, mercenária.

  O homem era alto e tinha cabelos loiros curtos, seu rosto parecia gentil, mas seus olhos eram mortos, como se n?o tivesse real interesse na batalha que solicitava. Duas elegantes espadas curvas estavam presas em suas costas, mas Ana n?o pode deixar de notar que uma espécie de varinha pendia em seu cinto.

  A realeza mercenária n?o era classificada por for?a, mas sim por sua lenda construída através de feitos, ent?o, apesar de muitos ca?adores orgulhosos terem a vontade de aumentar seu status ao vencer uma rainha, apenas os que garantiam ter o mesmo nível de for?a que a garota pediam um duelo, ninguém queria ser mal visto ao enfrentar alguém claramente mais fraco.

  — Estou de boa — respondeu Ana, seguindo seu caminho. Assim como os dois desafiantes anteriores, ela apenas negou secamente os pedidos, n?o se importando dos rumores que certamente se espalhariam sobre sua covardia.

  “N?o tenho nada a ganhar com lutas de rua, se eu vencer esses caras o ciclo vai continuar se repetindo com oponentes cada vez mais fortes”, refletiu ela enquanto dava passos largos para longe do local.

  Havia uma regra bem definida para lutas dentro das cidades: se um n?o quer, dois n?o lutam. Lutas mal planejadas destroem os arredores e podem machucar civis, e quando isso acontece, o que resta ao atacante inicial s?o severas multas e um bom tempo atrás das grades, as autoridades n?o faziam corpo mole na emergente sociedade onde um ataque mágico lan?ado ao azar chegava ao nível de um ataque terrorista de antigamente..

  O rosto gentil do ca?ador se distorceu ao notar que havia sido ignorado. Se houvesse medo no rosto de Ana, ele simplesmente se gabaria de como venceu sem nem precisar lutar, mas o olhar lan?ado em sua dire??o claramente continha desprezo.

  — Mercenáriazinha de merda, olhe para mim enquanto eu falo com você — com um movimento bem treinado, Luiz pegou a varinha que mantinha como seu último recurso. O item era uma fina pe?a de madeira com belos entalhes ao longo de seu corpo, um brilho azul parecia ser deixado no rastro de seus movimentos.

  O ca?ador murmurou palavras inaudíveis e apontou para Ana, fazendo um estranho, mas aparentemente preciso, giro do graveto enfeitado.

  Notando o repentino movimento, a garota saltou para trás, já com a faca em punho. Ela girou rapidamente em dire??o ao homem, mas logo uma express?o confusa apareceu em seu rosto.

  — Ei, o que você está fazendo? — perguntou Ana, com a cabe?a levemente inclinada.

  Luiz estava parado em uma posi??o imponente, como se fosse um bruxo lan?ando uma poderosa magia. Notando a falta de resposta, a mercenária se aproximou lentamente e encostou em sua testa. O grande homem pareceu balan?ar com o movimento, mas ainda n?o expressou rea??o, como se estivesse parado no tempo.

  — Que cara estranho… isso fica comigo. Você n?o se importa, né? — Ana puxou a varinha das m?os estagnadas e come?ou a se afastar, voltando para suas tarefas habituais. Ela tinha um encontro marcado com seus subordinados, estava na hora de se fortalecerem.

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  — Socorro! Alguém me ajude, por favor! — Luiz gritava desesperadamente, suas palavras evaporaram no ar, t?o inúteis quanto ele se sentia.

  Era um mundo branco infinito, um mundo vazio, exceto por intermináveis fileiras de gaveteiros de escritório, todos trancados por um estranho cadeado preto.

  — Como isso é possível? — murmurava ele, a voz abafada pelo nada absoluto que parecia engolir cada som.

  Ele tentou abrir os gaveteiros com m?os trêmulas, um após o outro, sem sucesso.

  — Isso n?o pode estar acontecendo. Era só um ataque mental inocente, eu só queria ser ouvido, só queria provar meu valor... só isso! — seu monólogo se tornava cada vez mais frenético à medida que a realidade de seu aprisionamento se solidificou.

  Correndo de um lado para o outro, ele tocava os cadeados frios, cada um resistindo às suas tentativas. A frustra??o o consumia, enquanto ele batia com seus punhos nos gaveteiros em um claro panico, esperando inutilmente que algo ocorresse.

  — Por que eu? O que fiz para merecer isso? — ele desabou no ch?o, seus joelhos falhando pela exaust?o. — Talvez eu nunca escape. Talvez esse seja o meu fim... perdido na mente de alguém que nem ao menos conhe?o.

  As lágrimas que come?avam a correr por seu rosto eram a única resposta que o vazio lhe dava. A cada solu?o, Luiz sentia como se um pouco mais de sua sanidade se esvaísse, deixando-o à deriva em um oceano de nada. A no??o de que cada gaveteiro trancado representava um fragmento de Ana surgiu aos poucos, aterrorizando-o.

  — Eu n?o quero ficar louco, n?o aqui, n?o sozinho.

  A solid?o era esmagadora, mas conforme os aparentemente intermináveis dias passavam, Luiz finalmente aceitou sua situa??o. Suas últimas palavras n?o eram mais que um sussurro enquanto ele se encolhia, abra?ando os próprios bra?os em uma v? tentativa de encontrar algum conforto no isolamento total.

  — Trinta moedas de ouro, uma quantidade acima do esperado para uma miss?o de bronze — Ana separou as moedas em cinco montes iguais, entregando-as lentamente para cada membro do grupo.

  — N?o acho que valeu a pena — disse Júlia, encarando o punhado de moedas restantes que seria destinado a Marina.

  O quarto estava frio, mesmo com a tarde ensolarada do lado de fora. O silêncio parecia caminhar lado a lado com o próprio ar, permeando cada membro do grupo ao serem lembrados da perda recente.

  — Bem, sabem se ela tem algum familiar próximo? — Ana perguntou, quebrando brevemente o clima pesado.

  — Ela dividia um quarto comigo perto do centro, n?o parece que tinha alguém, ao menos n?o na regi?o — novas lágrimas surgiram nos olhos de Júlia, um acontecimento recorrente nos últimos dias.

  — Entendo, vamos apenas guardá-las por enquanto.

  Com movimentos cuidadosos, as moedas de Marina foram depositadas em um pequeno caixote no canto da sala. Sua presen?a, apesar de triste, trazia certo conforto ao grupo.

  — Ana, tenho pensado... acha que poderíamos tentar uma nova prótese para mim? — perguntou Felipe, tocando o lugar onde seu bra?o terminava. — Algo que talvez integre algumas fun??es de combate?

  Ana olhou para ele com um sorriso compreensivo, a conversa lentamente mudou para os planos futuros do grupo.

  — Claro, Felipe. Na verdade, já tenho algumas ideias. O que acha de algumas integra??es de armas no dispositivo? N?o pude deixar de notar seus sorrisos durante as batalhas em Kurt.

  Os olhos do jovem ca?ador brilharam enquanto aceitava a sugest?o em um aceno silencioso, mas animado.

  — ótimo, pode ser um bom projeto para nós. Alex, parece que também teremos que conversar.

  — Vocês sabem que meus pulsos est?o acabados. N?o consigo mais segurar a lan?a com firmeza… — O grande homem, que estava calado até ent?o, finalmente falou.

  — Eu n?o vou mentir, se insistir nessa arma, nunca irá evoluir, mesmo que aumente sua for?a. Seus ferimentos n?o s?o algo que pode ser completamente curado, sempre v?o existir resquícios que te seguram.

  — Acredito que n?o sou mais alguém qualificado para estar na equipe — Alex olhou para o ch?o, seus punhos firmemente cerrados enquanto tentava aceitar a realidade.

  — Do que está falando? Eu deixei claro que é apenas se insistir em sua arma atual — a garota suspirou, enquanto apertava suas têmporas ao ouvir o drama do amigo. — N?o tem como seus nervos danificados fornecerem o impulso necessário para uma perfura??o adequada da lan?a, mas o que acha de manoplas? Claro, é algo totalmente novo, mas seu corpo se adequaria bem a um estilo de luta utilizado por pugilistas.

  — Hmmm, se você acha que consigo, n?o vejo motivos para recusar… Espero sua ajuda em meus treinos, chefe!

  — E eu? O que você acha que posso fazer para melhorar? Estou me sentindo um pouco perdida desde... desde tudo que aconteceu. Sei que sou fraca, mas foi humilhante — Júlia, que observava a troca de ideias, finalmente falou.

  Ana deu um sorriso gentil e colocou uma m?o no ombro da garota ruiva.

  — Seu estilo só vai brilhar quando seu corpo for forte o suficiente para balan?ar aquele martelo como se fosse uma espada. Até isso chegar, pensaremos em uma nova arma que te apoie para oponentes mais rápidos.

  Júlia torceu o nariz ao ouvir sobre experimentar uma arma diferente, mas as lembran?as de seus ataques n?o chegando nem perto de tocar a sombra a fizeram dar um aceno de concordancia, mesmo que a contragosto.

  — Eu estava pensando... Por que n?o formalizamos nosso grupo? — sugeriu Ana, animando-se com a ideia.

  — Você diz, dar um nome para nós? — Felipe estava refletindo sobre a ideia inesperada, chegando a conclus?o de que era algo bom para espalhar seu nome.

  — Sim, algo que nos defina, nos una.

  — Eu gosto disso — disse Júlia, um brilho de entusiasmo atravessou seus grandes olhos. — Precisamos de algo que nos lembre por que estamos juntos, especialmente agora.

  — Que tal "Ironia Divina"? — Alex sugeriu. — Sabe, nos últimos tempos sempre algo dá errado, sinto que os céus est?o zombando de nós.

  — Perfeito! — respondeu Ana, sorrindo ao ouvir as palavras do jovem ca?ador. Para ela, n?o parecia haver nome melhor. Todos acenaram em concordancia. — Agora, me sigam.

  O grupo foi ao jardim, com a luz do sol da tarde banhando seus rostos. A pedido de Ana, Júlia segurava cuidadosamente o retrato de Marina, mas sem entender o motivo disso.

  — Prontos? Olhem para lá e digam ‘X’!

  Pegando a todos de forma despreparada, um flash veio de um pequeno tripé já montado ao lado de uma das árvores. O momento foi caótico, mas a camera capturou bem n?o só a imagem, como também a essência dos integrantes, unidos n?o apenas pela luta e pela sobrevivência, mas pelo companheirismo que continuavam a cultivar, mesmo nas circunstancias mais difíceis.

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