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Capítulo 27 - Bibliotecário

  As garotas avan?avam lentamente pelas ruas vazias do vilarejo, observando as casas modestas com janelas fechadas e portas trancadas, suas sombras se alongando com o crepúsculo.

  — Parece que est?o todos escondidos... Será que acharam que estávamos aqui para causar problemas? — Júlia questionou, olhando para Ana em busca de sua lideran?a.

  — Talvez seja apenas precau??o. Vamos encontrar o chefe do vilarejo.

  N?o foi difícil achar a velha casa, e, diferente do esperado, um senhor com as costas curvadas rapidamente as atendeu ao baterem na porta. A conversa foi clara e direta, e rapidamente elas descobriram que o verdadeiro problema era um grande mal-entendido sobre a distribui??o de água, que tinha sido interpretado como um prenúncio de conflito.

  — Vejam só, a maior parte dos problemas do mundo vem da falta de comunica??o — Ana comentou, saindo da casa com uma express?o cansada.

  As “atividades suspeitas” reportadas no mural em realidade tratavam-se de pequenas sabotagens feitas entre famílias rivais da aldeia. Com sua autoridade natural, Ana conseguiu dissipar os temores e esclarecer o mal-entendido. As horas passaram, e ao fim, as famílias concordaram em trabalhar juntas para melhor gerir os recursos hídricos do vilarejo.

  — Até que foi fácil, né? — disse Júlia com um suspiro de alívio enquanto deixavam o vilarejo atrás de si.

  — Bem, é o esperado de uma miss?o que pagava apenas algumas moedas de prata. Nem tudo envolve sair por aí batendo nas coisas — Ana respondeu com um sorriso. — às vezes as pessoas só precisam ser ouvidas.

  A miss?o foi concluída em poucas horas, ent?o a fria neblina da madrugada ainda estava presente no ar. N?o vendo necessidade de se acomodar nas humildes casas dos moradores, elas decidiram acampar na borda da floresta antes de retornar.

  Um silêncio confortável se instalou no grupo, e em meio a ele Ana acendeu um pequeno fogareiro portátil.

  — E ent?o, o que você gostaria de comer?

  — Ahn? Eu posso realmente escolher?

  — Na verdade n?o, eu só trouxe uns poucos ingredientes — respondeu Ana, soltando uma breve risada contida.

  Júlia encarou a garota com um olhar confuso, mas logo voltou a se encostar na árvore próxima.

  — Bem, ent?o aceito qualquer coisa.

  — ótimo!

  A ca?adora observava enquanto Ana habilmente preparava alguns vegetais e estranhas plantas coloridas, aparentemente para um ensopado simples.

  — Sabe, cozinhar n?o é muito diferente do remédio que fiz para Eva. é tudo sobre entender os ingredientes e como eles reagem juntos. A comida pode ser simples, mas ainda assim, satisfazer as necessidades do corpo.

  Ana come?ou um estranho monólogo enquanto suas m?os se moviam instintivamente, copiando os intrincados movimentos de uma vaga sombra que se projetava a seu lado.

  “é o mesmo cheiro”, pensou ela para si mesma ao inspirar o aroma do ensopado, mas logo despertou de seus devaneios, oferecendo a Júlia uma prova do que estava preparando.

  — Como você sabe fazer tudo isso? — perguntou a garota ruiva, genuinamente curiosa após sentir o rico sabor que estava na colher.

  — Acho que n?o tenho explica??o para isso. Eu preciso comer, ent?o aos poucos, aprendi.

  — é impossível que seja só isso, você poderia ser uma chef!

  — Talvez, mas prefiro o campo de batalha — Ana deu de ombros, fugindo lentamente do assunto.

  Júlia observava fascinada, percebendo uma faceta diferente de sua líder. O processo era metódico, cada movimento calculado, como se estivesse em um laboratório e n?o ao redor de uma fogueira.

  Enquanto comiam, o assunto fluiu naturalmente para os acontecimentos do dia.

  — Júlia, me conta, como se sentiu usando a nodachi hoje? — Ana perguntou, querendo entender mais sobre como a jovem se sentia em campo.

  — Senti como se finalmente pudesse lutar do meu jeito. N?o é t?o bruto quanto um martelo, mas é poderoso — Júlia respondeu com entusiasmo, fazendo Ana sorrir.

  — ótimo, isso significa que estamos no caminho certo. — Ana recolheu os utensílios de cozinha e preparou-se para a noite. — Eu estava pensando em alguns atributos para ela, mas n?o sou t?o experiente no assunto. Antes de fazer as novas armas, irei procurar alguém apto para me ajudar no processo.

  A noite terminou com as duas rindo e compartilhando histórias e can??es. Ana observava Júlia com uma nova aprecia??o, notando como a jovem tinha crescido desde que se juntaram.

  Nos dias seguintes, Ana e Júlia participaram de várias miss?es simples aleatórias, cada uma ajudando Júlia a aprimorar suas habilidades com a nova lamina. Com o tempo, Felipe e depois Alex se juntaram a elas, cada um recuperado e pronto para retomar suas fun??es.

  The narrative has been stolen; if detected on Amazon, report the infringement.

  Uma atmosfera serena permeava os silenciosos corredores da biblioteca da cidade. As estantes, carregadas com o peso do conhecimento, se estendiam até quase tocar o teto alto, cada uma repleta de volumes que contam histórias de eras passadas, teorias esquecidas e segredos da magia, todos cheios de fantasias que, comicamente, voltaram a se tornar reais no mundo moderno.

  O ch?o de madeira absorvia o som de cada passo cauteloso dos poucos visitantes. Raios de sol pintavam o interior com cores quentes, filtradas pelos vitrais retratando lendas de herois e feiticeiros.

  Os olhos de Ana brilhavam ao ser cercada por edi??es que nunca teve a chance de conhecer, tudo o que ela queria era devorar cada página daqueles livros, mas a garota havia ido até aquele local com um propósito claro. Varrendo o ambiente com um rápido olhar, encontrou o homem que buscava, o único leitor publicamente conhecido em Barueri. Coincidentemente ou n?o, ele era o bibliotecário.

  Seus cabelos eram curtos e de um preto intenso. Seu corpo parecia magro, mas n?o estava claramente visível devido ao grande casaco que estava usando. Um pequeno piercing adornava sua sobrancelha esquerda, e ele, em seus vinte e poucos anos, n?o parecia adequado para o ambiente antigo de seus arredores. No entanto, uma estranha aura parecia fluir no ambiente, fazendo a figura ser quase t?o parte daquele lugar quanto os livros dos quais cuidava.

  — Você é o Brayner, o leitor, certo? — Ana perguntou, aproximando-se da mesa onde o homem lia um volumoso tomo sobre runologia arcana.

  — Depende de quem pergunta… — olhando para cima com um olhar surpreso, ele fechou seu livro, causando um leve estalo.

  — Me chamo Ana, e indo direto ao ponto, preciso de suas habilidades.

  Com o terminar da frase, a mercenária desenrolou uma série de esbo?os detalhados, observando atentamente a rea??o de Brayner, esperando que ele pudesse ver o potencial que ela via nos designs. Os projetos eram extremamente complexos e, como esperado, rapidamente atraíram o interesse do garoto.

  — Vejo que cada item já contém as marca??es para as runas que devem ser incrustadas. Mas parece que ainda falha em algumas nuances críticas.

  Ele a encarou por um instante, tentando avaliar as inten??es da jovem e estranha mo?a que repentinamente surgiu em sua frente. Seus olhos brilharam sutilmente, antes que um intenso arrepio atravessasse seu corpo.

  — Você… o que é você?

  Ao invés de uma resposta, Ana apenas colocou um dedo sobre os lábios em um claro pedido de silêncio sobre a situa??o. O bibliotecário estava assustado, mas foi incapaz de conter sua curiosidade ao conhecer algo que fugia de seu extenso conhecimento.

  — Bem, é um prazer conhecê-la. Sim, eu sou o leitor. Fale-me mais sobre essas armas e o que exatamente você precisa, eu decidirei em seguida se tenho como fornecer meus servi?os.

  — Estou buscando integrar atributos específicos que v?o além da resistência e for?a — Ana detalhou, sem perder tempo. — Quero que cada arma tenha habilidades únicas, algo que se encaixe com a personalidade e estilo de seu usuário.

  Os dedos de Brayner voltaram aos desenhos, tra?ando as linhas das runas propostas. Ele come?ou a murmurar sozinho sobre as diversas propriedades dos fluxos da mana descritos, fazendo novas anota??es sobre como certas configura??es podem amplificar ou redirecionar a energia de maneiras específicas.

  — Veja, se ajustarmos esta runa aqui para captar mais diretamente a for?a gerada pelo movimento e a energia estática do ambiente, a lamina poderia, teoricamente, causar um forte impulso elétrico sob seu comando.

  “Parece que ele já aceitou o desafio”, percebeu a garota. Ela estava ouvindo atentamente, absorvendo cada palavra.

  — Isso poderia ser potencializado com o uso de materiais piezoelétricos?

  — Depende muito, temos que pensar também na condutividade de mana.

  Sugest?es come?aram a surgir dos dois lados, um debate que aos poucos evoluiu para uma troca intensa de ideias sobre metais, pedras preciosas e outros materiais ideais para uma mescla de elementos naturais com for?a intensa da mana.

  — Bem, você se importaria de vir até a forja amanh? e me ajudar a testar algumas dessas teorias na prática? — Ana perguntou, esperan?osa. — Claro, pagarei o peso de seu conhecimento em ouro puro.

  — Será um prazer, Ana. N?o é sempre que tenho a oportunidade de ver a teoria se solidificando em algo palpável.

  Com os planos definidos, Ana agradeceu Brayner e caminhou em dire??o a saída da biblioteca, havia muitos preparos a serem feitos.

  Na atmosfera aquecida pela forja crepitante, Ana e Brayner mergulharam no intricado processo de cria??o de armas n?o apenas estéticamente espetaculares, mas funcionalmente revolucionárias. A oficina estava repleta de materiais selecionados a dedo, cada um notável por suas propriedades mágicas e físicas, prontos para serem transformados em instrumentos de poder.

  — A chave está na simbiose entre material e mana — explicou o leitor, revisando novamente as linhas do fluxo de mana desenhadas no pergaminho.

  Enquanto Brayner contribuía com seu domínio sobre runologia e magia em geral, Ana dava complexas explica??es sobre física, minérios e aplica??o prática em combate de acordo com o design final. Juntos, eles come?aram a trabalhar na primeira de suas cria??es, a nodachi elétrica.

  A lamina da espada foi especialmente projetada para incorporar cristais piezoelétricos ao longo do seu corpo, permitindo converter for?a mecanica em energia elétrica. Os cristais foram cuidadosamente embutidos no metal, e a energia gerada por eles era armazenada em um condensador compacto integrado ao cabo da espada.

  — Esses cristais, quando deformados sob press?o de vibra??es ou impactos, alinham suas estruturas internas de uma maneira que promove o fluxo elétrico. é como canalizar a fúria de um raio em cada golpe da lamina. — Ana explicou, continuando o trabalho.

  Um mecanismo de disparo permitia que essa energia fosse liberada em poderosos impulsos elétricos, adicionando um elemento surpresa e letalidade extra ao armamento. Brayner, com seus conhecimentos de runologia, desenhou padr?es complexos ao longo da lamina ainda quente, tais padr?es n?o apenas iriam guiar a mana mas também potencializariam a descarga elétrica quando ativada.

  Os olhos dos dois estudiosos brilharam ao ver a elegante lamina concluída, mas prosseguiram com um aceno silencioso. Sem perder tempo, puxaram o próximo projeto.

  O atributo terra foi escolhido para as manoplas, e ligas de silicone refor?adas com partículas de magnetita foram utilizadas em sua confec??o, com pequenos fragmentos de turmalina negra incrustadas nas articula??es para melhor passagem de mana. Seu design inovador permitia que, ao receber impactos, as partículas amplificassem o campo magnético natural do portador, fortalecendo tanto sua defesa quanto seu impacto ao atrair as for?as telúricas do ambiente.

  Ana observava fascinada enquanto Brayner esbo?ava runas que melhorariam essa conex?o, fazendo com que cada soco lan?ado com as manoplas parecesse o golpe de um gigante.

  O projeto mais complexo foi a prótese para o bra?o direito de Felipe foi um projeto particularmente ambicioso, algo que ia muito além das rápidas tentativas anteriores de Ana. Ao invés de a?o, a prótese foi moldada com uma combina??o de prata e cobre, materiais que favorecem a flexibilidade e a condu??o mágica. Integrada à sua palma, uma pequena escopeta mágica foi desenhada, sendo discreta, mas devastadora.

  Aqui, a magia se uniu à tecnologia de uma forma quase natural: além das runas que permitiam um controle preciso através do pensamento, bobinas e ím?s foram integrados ao longo do bra?o, permitindo que projéteis mágicos fossem acelerados através de um forte campo eletromagnético, n?o dependendo somente de uma fonte de mana externa. Um pequeno gerador, ativado pelo movimento natural do bra?o, garantia energia suficiente para os disparos.

  — Esse sistema n?o só otimiza a energia gerada, mas também permite uma recarga contínua durante o combate, mantendo a arma pronta a cada movimento, é incrível! — exclamou Ana, encarando a própria cria??o, claramente orgulhosa.

  As horas se estendiam enquanto eles ajustavam cada detalhe, discutindo e aplicando as melhores combina??es para maximizar o potencial de cada pe?a. Chispas de metal quente e o brilho de runas recém-ativadas iluminavam seus rostos concentrados continuamente enquanto refaziam partes ainda n?o satisfatórias.

  Finalmente, após uma longa noite de trabalho e experimentos, as armas estavam prontas. Por sugest?o de Ana e vendo uma oportunidade de explorar um campo n?o muito debatido por outros especialistas, Brayner havia modificado as simples e lisas runas para seguirem de forma mais fiel aos canais presentes nos corpos humanos. A garota o orientou precisamente nos caminhos que deveriam ser seguidos, e ele usou o máximo de suas habilidades para fazer com que o novo tipo de runa funcionasse, alcan?ando um potencial maior do que o esperado.

  As finas veias que circulavam os equipamentos fazia com que parecessem pulsar, dando uma sensa??o de vida para os objetos inanimados.

  — Faltou apenas um último detalhe.

  Com uma pequena broca e a ajuda de seu ma?arico, Ana esculpiu uma pequena coroa em cada um dos itens. Elas foram sutilmente conectadas ao fim das runas, fazendo-as brilhar levemente conforme a mana fluía, mas sem afetar seu funcionamento.

  — Nunca pensei que veria uma fus?o t?o perfeita de arte, ciência e magia. — murmurou o bibliotecário, passando a m?o pela superfície ainda quente da prótese. — é uma obra de arte. Estou ansioso para ver estas em a??o.

  — Ver em a??o? Que tal nos acompanhar fora dos muros? — brincou Ana, intrigada com as falas de Brayner.

  — Quem sabe eu acompanhe alguma de suas miss?es, me sentiria mal se n?o visse o qu?o eficazes elas s?o.

  — Bem, parece que sua chance acabou de chegar.

  Como se esperasse o pronunciamento do jovem leitor, o telefone de Ana tocou. Madame esperava do outro lado da linha, já estava na hora de partirem para uma nova miss?o obrigatória.

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