— Fui descuidada…
Ana arregalou os olhos, surpresa e desorientada. N?o houve sequer tempo de desviar, e todo o ar foi for?ado para fora de seus pulm?es em um único arquejo rouco.
Sua respira??o falhou, e uma dor excruciante atravessou seu corpo. Ela trope?ou para trás, tentando entender o que havia acontecido. O impacto foi brutal, como se seu peito tivesse sido atingido por um aríete invisível.
Natalya também recuou alguns passos, os olhos fixos na rainha enquanto abaixava a m?o, de onde ainda saía uma fuma?a fina.
— Sabe o que é engra?ado? — comentou a Colecionadora, com a voz baixa e cortante. — Eu também nunca disse que ia usar só os punhos.
Ana levou a m?o ao peito, sentindo o sangue quente escorrer por entre seus dedos. O sal?o pareceu girar por um momento, mas ela se for?ou a permanecer de pé. Apertando os dentes para suportar a dor, colocou um dedo dentro de um dos múltiplos pequenos furos.
“Felizmente n?o foram letais…”, o quente metal de uma bala ardia em seu dedo, trazendo um alívio de que, por mais que mal respirasse, era pouco provável que morreria daquilo.
Apesar disso, suas costelas protestavam em uma sensa??o lancinante. Por mais que a mana endurecesse sua carne, o impacto ainda havia quebrado mais do que apenas uma delas, e ao tentar dar um passo, curvou-se involuntariamente sobre si mesma. O líquido vermelho que escorria pingava no ch?o como um lembrete cruel de sua vulnerabilidade.
— Maldita... — sussurrou, a palavra saindo entrecortada enquanto tentava recuperar o f?lego.
Natalya deu um pequeno passo à frente, o som metálico de suas botas ecoando pelo ch?o.
— Ainda pode falar? — provocou ela, inclinando levemente a cabe?a enquanto limpava o resquício de seu próprio sangue no canto da boca. — Você realmente cresceu desde a última vez.
Ana ergueu o olhar, seus olhos brilhando com um misto de raiva e um estranho deboche.
— N?o acabou ainda.
Ela soltou a m?o da ferida, permitindo que o sangue escorresse livremente, manchando desde suas roupas até a empunhadura da lan?a-espada. Firmemente, segurou a arma com ambas as m?os, girando-a no ar, o som do metal cortando o vento ecoando como uma promessa do que estava por vir.
Ela preparou seu ataque, ignorando a respira??o irregular que n?o conseguia evitar, e Natalya fez o mesmo a sua frente, ajustando o peso do corpo e levantando os punhos.
— Certo. Ent?o, venha. Divirta-me uma última vez antes do fim.
O sorriso de Ana se alargou enquanto puxava a arma para trás em uma clara prepara??o para uma estocada. Natalya permaneceu imóvel, observando cada movimento.
Ela sabia que a mulher mascarada à sua frente estava lutando contra o tempo. Seu corpo estava no limite, mas, mesmo assim, era perigosa.
Claro, sabia também que restava apenas o golpe final.
Logo tudo isso acabaria.
Quando o ataque de Ana veio, foi feroz e direto, e Natalya se moveu imediatamente, posicionando o corpo para apará-lo.
Mas inesperadamente ele mudou de dire??o no último instante. A lamina cortou o ar ao lado de Natalya ao invés de em seu corpo, e ent?o recuou, desaparecendo repentinamente de sua vis?o.
Natalya hesitou por um instante, a express?o perplexa ao notar que Ana n?o estava mais lá.
— Você... Correu?
A cena beirava o absurdo. Natalya, a Colecionadora, enfrentara Ana em lutas que ultrapassavam o físico, mergulhando no psicológico e na pura for?a de vontade.
Mas que ela iria fugir? Realmente n?o pensou nessa possibilidade.
No entanto, os sons fortes dos passos no piso ecoavam pelo sal?o, provando que n?o era apenas imagina??o. Ana estava correndo, ocultando-se entre as colunas, acompanhada somente por sua gargalhada alta repleta de mórbida divers?o.
— Ah... Você deve estar de brincadeira com minha cara... — resmungou Natalya, acelerando os passos atrás da insana mulher.
A exilata metálica n?o era feita para ca?adas prolongadas.
Seu corpo havia sido modificado para ser durável, n?o para armazenar um arsenal de armas. Isso devia-se ao fato de que confiava em sua for?a natural, em sua habilidade de lutar no estilo clássico, direto e brutal. Mas acreditava ainda ter o suficiente para lidar com uma Ana já ferida.
Sempre que avistava o brilho da lan?a-espada entre as colunas, Natalya disparava. As pequenas rajadas, precisas, mas calculadas, ecoavam no sal?o, enquanto ela tentava for?ar Ana a se expor.
— Você ficou mais forte, isso é verdade — grunhiu em frustra??o. — Mas essa atitude? é ainda mais decepcionante do que na primeira vez que me enfrentou!
Enquanto falava, um sorriso trai?oeiro surgiu em seus lábios ao notar que os passos de Ana estavam cada vez mais próximos.
— Foda-se! — a resposta da rainha oculta veio em uma frase rouca que fez Natalya rir, mesmo irritada.
— Sempre t?o refinada…
N?o queria dar tempo para Ana inventar algo mais irritante, como fugir pelos corredores do castelo. Mas foi ent?o que um ponto preto surgiu de repente à sua frente, movendo-se rápido demais para ser identificado.
Com reflexos apurados, Natalya curvou-se para trás, desviando por um triz. A lan?a passou a poucos centímetros de sua cabe?a, cortando o ar como um trov?o. A velocidade do ataque era absurda. Quando a arma se retraiu, voltando para o escuro entre as colunas, de onde veio uma tosse forte, antes de voltar a se afastar.
— Extremamente irritante... — reclamou a Colecionadora, ajustando a postura e voltando à persegui??o.
Algo estava errado. Ana n?o deveria ter energia para isso. Seus movimentos, sua velocidade — tudo parecia inconsistente com o estado deplorável em que estava momentos atrás.
Outro ataque veio, desta vez de uma coluna à sua esquerda.
A lan?a surgiu em um arco feroz, mirando seu tronco. Natalya ergueu o bra?o metálico para bloquear, desviando a lamina para que ela colidisse com a pedra ao lado. O impacto fez estilha?os rochosos voarem pelo ar.
Foi ent?o que Natalya finalmente a viu por completo.
Ana permanecia coberta de sangue, mas seu rosto, sujo e suado, exibia um sorriso desconcertante, quase insano. O ferimento em seu peito, que antes sangrava de forma alarmante, agora estava coberto por uma fina camada de pele, como se come?asse a cicatrizar.
— O que... — Natalya murmurou, os olhos estreitados enquanto avaliava a cena.
N?o fazia sentido.
Mas n?o era só isso. Os olhos de Ana, outrora de um amarelo intenso, estavam opacos, como se uma sombra cobrisse sua vis?o. O sorriso predatório em seus lábios n?o parecia humano, mas algo além, algo desconhecido.
No ombro da rainha, um pequeno frasco vazio brilhava sob a luz bruxuleante. Uma substancia vermelha viscosa escorria pelas bordas do vidro.
A vis?o captou o interesse de Natalya, e sua frustra??o foi substituída por curiosidade em um clique.
— Interessante...
Ana notou o olhar, riu e puxou o frasco, removendo-o do ombro. Com um movimento casual e desafiador, lan?ou o frasco na dire??o de sua oponente antes de girar nos calcanhares e voltar a correr.
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Natalya pegou o item no ar, examinando-o. Algumas gotas ainda escorriam pelo vidro, brilhando com uma luz incomum.
Ela n?o sabia exatamente o que era, mas o efeito em Ana era inegável.
— Realmente é mais do que interessante…
Com um peda?o de pano arrancado de seu casaco rasgado, limpou a borda do frasco e o selou cuidadosamente. Era o suficiente para uma análise futura. N?o podia desonrar o título de Colecionadora. Algo que n?o conhecia era valioso demais para ignorar, merecia ser estudado.
Com um sorriso satisfeito, Natalya voltou à persegui??o.
As estocadas surpresa continuaram, paredes e colunas do sal?o estavam cobertas de marcas de impacto, cortes profundos que mostravam o alcance destrutivo da arma.
Natalya estava sendo pressionada. Sua for?a e resistência lhe davam vantagem, mas a velocidade e imprevisibilidade de Ana, combinadas com a extens?o da arma negra, estavam come?ando a desgastar sua defesa.
Uma estocada particularmente rápida acabou por finalmente atravessar um de seus bra?os, fazendo a Colecionadora rosnar.
— Chega disso!
Felizmente, esse era o momento que ela esperava.
Com o metal negro ainda dentro de si, girou o bra?o, for?ando Ana a dar alguns passos à frente. Ela sorriu com a vis?o da mercenária, mas no momento em que iniciou o movimento para um preciso soco em seu rosto, o ar ao redor pareceu mudar.
Reparou que Ana fechou os olhos, algo que com certeza n?o deveria ser feito em uma situa??o assim. Com a Colecionadora ainda presa, ela gritou o mais alto que p?de, balan?ando a lan?a de forma que a mulher fosse levantada, acertando a coluna mais próxima.
Estilha?os voaram para todos os lados, mas ao invés de caírem, ficaram parados no ar.
Ana ent?o largou a lan?a, e com um movimento de m?o, fez com que as centenas de pequenas pedras disparasse em velocidades insanas em dire??o a sua oponente.
“Ela é uma manipuladora? N?o faz sentido, tenho certeza que investiguei o suficiente sobre suas capacidades”, o pensamento de Natalya foi interrompido quando foi obrigada a defender seus pontos vitais.
As incessantes pedras n?o eram o suficiente para um dano absurdo, mas ser descuidada era pedir para morrer.
Conforme bloqueava, finos filetes de metal eram arrancados de seu corpo, e assim como as pedras, flutuavam no ar, disparando de volta em sua dire??o poucos segundos depois. A velocidade só aumentava conforme o ataque continuava, e uma estranha névoa negra come?ou a se misturar ao ar utilizado para segurar os projéteis.
“Está durando mais do que o esperado”
Sabia que n?o podia ficar ali. Se continuassem ficando mais fortes, um descuido seria suficiente para uma daquelas pedras atravessar sua cabe?a. Com um suspiro profundo, ela estendeu o bra?o, se jogando em dire??o à rainha que a observava de perto.
No entanto, quando notou o movimento, Ana recuou de imediato, usando uma corda manifestada com mana para puxar-se para trás.
Ela pousou suavemente em uma coluna quebrada e, sem hesitar, levantou a m?o novamente. Uma bola de fogo come?ou a se formar, mas n?o era apenas calor; era destrui??o em estado puro, uma chama que foi rapidamente corrompida por uma inquietante escurid?o, parecendo consumir a luz ao seu redor.
Ela lan?ou a bola em dire??o a Natalya, que desviou, mas as chamas explodiram ao atingir o ch?o, criando uma onda de calor que lan?ou ambas para trás. Natalya aterrissou rolando, ofegante, enquanto rapidamente se desfazia de suas roupas em chamas.
— Você realmente quer brincar com fogo? — grunhiu ela , erguendo-se.
Ana n?o respondeu. Seus olhos já estavam completamente pretos, uma escurid?o que parecia pulsar junto com sua respira??o, a qual soava como um rosnado baixo.
Ela apertava a garganta como se n?o conseguisse respirar.
A mana reversa agora envolvia seu corpo como uma segunda pele. Cada manifesta??o de mana fazia seus movimentos se tornarem mais rápidos, mas também mais violentos.
Antes que Natalya se movesse, a rainha insana condensou finas correntes no ar, e em um instante, as lan?ou como serpentes vivas, agarrando a mulher metálica antes que pudesse fugir. Assim, levantou a lan?a novamente, lan?ando um golpe que atravessou diretamente o ombro de sua cativa.
A Colecionadora recuou, mas as correntes apertaram, e Ana já estava em movimento novamente, girando o corpo para usar a extremidade do cabo como uma clava, acertando o bra?o cibernético com for?a suficiente para deixá-lo ainda mais distorcido.
Foi ent?o que Natalya, com um sorriso perigoso, ergueu a m?o puxando as correntes que a prendiam.
— Já está ficando chato.
Ana foi puxada junto, quase caindo em sua dire??o. Com um chute, acertou a rainha mascarada. N?o foi certeiro, pois ela contorceu seu corpo ainda em meio ao ar, mas o suficiente para afrouxar seu aperto.
Natalya ent?o puxou ar, enchendo seus pulm?es artificiais o máximo que p?de.
— Está na hora de come?ar o incêndio…
Seus bra?os come?aram a emitir um calor múltiplas vezes mais intenso do que antes, e uma luz alaranjada come?ou a se espalhar por cada veia incandescentes que pulsava sob a pele metálica. A luz subiu até a lateral de seu pesco?o, enquanto um vapor quente come?ou a exalar de seu corpo.
— Agora é a minha vez, rainha — O sorriso em seu rosto era amedrontador, uma mistura de desafio e satisfa??o.
Mesmo com um bra?o metálico quase inutilizado e a armadura rachada em vários pontos, se lan?ou para em dire??o a batalha.
N?o houve tempo para qualquer rea??o de além de cruzar os bra?os em frente ao rosto, e mesmo essa tentativa foi inútil em defender-se do pesado ataque. A mandíbula de Ana foi acertada com for?a suficiente para lan?á-la pelo sal?o, capotando enquanto tentava se estabilizar.
O impacto foi ensurdecedor, mas Ana, no ch?o, apenas riu. Um som rouco e desconcertante que parecia mais animal do que humano.
Ela se ergueu como se nada tivesse acontecido, olhou para o próprio pulso dobrado de forma anormal, balan?ando-o de forma divertida em frente aos olhos. Ignorando os ossos partidos, se lan?ou para frente.
Agilmente deslizou assim que se aproximou de Natalya, recuperando sua lan?a-espada e fincando-a no ch?o para se lan?ar para longe. Assim que tocou o solo, avan?ou novamente em uma série de ataques.
Natalya bloqueou o primeiro, mas o segundo golpe acertou sua lateral com for?a suficiente para rachá-la ainda mais.
Ela rosnou e ajustou sua postura antes de lan?ar uma sequência de golpes rápidos de contra-ataque. Ana foi acertada sem sequer tentar se defender, respondendo na mesma moeda. A troca machucava ambas, até que um soco atingiu novamente o maxilar de Ana, o deslocando temporariamente, mas a mercenária apenas o reposicionou com um estalo perturbador.
Algo que n?o deveria ter feito, pois antes que notasse, a Colecionadora já estava a segurando pelo colarinho, voltando a socar seu rosto.
Desta vez tentou se defender, mas sem sucesso suficiente para evitar machucados. Com um movimento brusco, pegou o frasco restante em seu cinto. N?o sabia o que aconteceria, mas fincou-o no próprio ombro em um movimento único.
“Vamos ver o que vai dar…”, pensou a mercenária com o que restava de sua sanidade.
O líquido come?ou a escorrer, a sensa??o era quente, quase ardente, enquanto a substancia se infiltrava em seu corpo. Mas ent?o ele explodiu.
— N?o vou deixar que use essa merda de novo.
Os fragmentos de vidro se fincaram por todo o pesco?o de Ana após sua oponente destruir o frasco com quase todo o líquido ainda dentro. Ana tentou se segurar, mas n?o conseguiu ficar sem rir da situa??o patética em que se encontrava enquanto continuava a receber os golpes.
Abandonando o que restava de sua sanidade, ao invés de se defender, agarrou o bra?o que a socou com as duas m?os, e ent?o o segurou com uma pesada mordida. Sua m?o foi em dire??o ao rosto da Colecionadora, e antes que a mulher-máquina pudesse reagir, a rainha cravou o polegar profundamente em seu olho direito.
O grito que Natalya soltou foi ensurdecedor, e um líquido viscoso misturado com sangue escapou de sua cavidade ocular enquanto ela jogava Ana com toda a for?a contra o ch?o.
— Maldita! — rugiu, pressionando a m?o contra o rosto.
Ana respirou fundo e tentou se levantar, mas logo caiu de joelhos. Antes que pudesse fazer mais uma tentativa, Natalya desferiu um novo golpe direto em seu rosto. O impacto foi t?o violento que quebrou seu nariz e a jogou ainda mais para trás, batendo novamente contra o solo.
— Finalmente... — murmurou Natalya, se aproximando devagar. Pegou a lan?a negra que Ana havia soltado, e com a arma em m?os, preparou-se para fincá-la no cora??o da mercenária caída.
Mas foi interrompida pelo som de um passo atrás dela.
Virou-se rapidamente, os sentidos ainda alerta, mas era tarde demais. Eva estava ali, sua figura firme, segurando seu arco dobrado em forma de espada.
Antes que Natalya pudesse reagir, a garota ruiva avan?ou e cravou a lamina em uma das muitas aberturas no abd?men da mulher-máquina.
Natalya congelou, seu olho restante se arregalando em surpresa.
— Você... — murmurou, encarando Eva. — é fraca!
Natalya riu, um som rouco e baixo que parecia contradizer sua situa??o.
Eva n?o disse nada, seu rosto endurecido pela determina??o enquanto continuava a pressionar..
— Você n?o se compara nem mesmo à sua irm?, garota — murmurou. — Fique mais forte, e talvez algum dia você realmente consiga completar essa ving-
A frase ficou inacabada.
Eva apertou um pequeno bot?o no cabo da lamina que perfura a carne, e o grande arco se abriu violentamente. As laminas se expandiram com uma for?a brutal, rasgando o corpo de Natalya ao meio antes que ela pudesse perceber.
Por um instante, o sal?o ficou em silêncio absoluto.
O torso metálico caiu para um lado, e as pernas para o outro, enquanto a luz alaranjada que pulsava nas veias da Colecionadora apagava-se lentamente.
A pequena conselheira ruiva permaneceu imóvel, segurando a arma ensanguentada enquanto observava os restos da assassina de sua irm? no ch?o.
Atrás dela, Ana riu baixinho, um som rouco e perturbador.
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